Às
vezes é difícil entender os outros. É difícil porque nos baseamos, ao olharmos
para eles, na nossa maneira de olhar o mundo. Esquecemos que cada um é um ser
singular, com as próprias ideias, sentimentos e jeito de ser. Eu confesso que
demorei a entender o Jorge, marido da minha querida irmã (Cristiana). Ele não
era muito de demonstrar afeto, não abertamente do jeito que “eu achava” que era
o ideal e aí eu ficava pensando: “porquê será que ele é tão caladão e fechado
assim?”. E com o passar dos anos esse meu conceito foi se dissolvendo e, foi
justamente no dia em que ele morreu, que eu entendi tudo.
O
jeito do Jorge demonstrar afeto era muito mais autêntico e verdadeiro do que
palavras soltas ao vento. Ele nos agradecia e demonstrava o que sentia nos
oferecendo as coisas que ele realmente amava fazer, como um belo de um frango
caipira e muitos outros pratos, que ele preparava como ninguém! Ele vivia nos
chamando pra almoçar na casa dele e, com o tempo, eu pude perceber o seu olhar
de satisfação vendo a gente saborear as delícias que fazia. Era visível o
contentamento!
O meu jardim também ele adorava cuidar, tinha tanto jeito com a
terra que tudo que plantava nascia que era uma beleza! Hoje no sítio onde eu
moro temos várias árvores frutíferas plantadas pelo Jorge, um pedacinho dele
que teremos até o fim de nossas vidas. Demonstrações silenciosas e originais.
Uma
grande lição pra mim. As pessoas se doam do jeito que elas sabem, do jeito que
podem, do jeito que são... e eu, apesar de toda visão limitada, aprendi com ele
que o bonito da vida é mesmo a gente aceitar os outros do jeito que são e
descobrir o quanto são verdadeiras e importantes as infinitas e imperceptíveis
formas de amar.
E
pensando nele, em todas suas qualidades e nesse jeito simples de amar, escrevi essa
reflexão, no dia em que o Jorge nos deixou:
... “Mas o que é uma vida bem vivida afinal?
Talvez seja criar galinhas caipiras, patos e gansos com tanto amor como se
fossem gente, fazer mudas de árvores com uma habilidade admirável que não tem
pé que não cresça, amar a terra, cuidar da terra...
plantar e colher com sucesso. Talvez seja cuidar dos filhos para que eles
cuidem de nós, com amor e dedicação, até o fim... ter muitos amigos que nos
amam, ter um trabalho pra se dedicar com afinco... adorar pescar... amar
cozinhar e fazer um frango caipira tão gostoso que ninguém faz igual... saber
escolher uma companheira que na dificuldade vai estar do seu lado pro que der e
vier, até o último suspiro... Talvez seja gostar de tomar uma
"pinguinha", porquê não?... Talvez seja morrer em paz por cumprir sua
missão nesse mundo, rodeado pelos filhos, esposa, mãe, amigos e todos que o amam,
mesmo que não seja fisicamente...
O Jorge nos deu um "até breve"... morreu sereno, sem sofrer, rodeado pela família e amigos. Em paz!
Se despediu da vida bem vivida... sem espaço para nenhum "talvez".
Agradecemos a todos pelas orações, atenção e carinho”.
Obrigado por tudo, Jorge!