Contar
a história de vida de alguém é uma grande aventura pra dentro da gente mesmo.
Me deparo o todo tempo nos meus dias de trabalho, na produção da biografia da
minha cliente amada, com cenas minhas, com frases minhas e com muitos
sentimentos meus. Aí fico pensando que é porque no fim das contas nós todos, de
um jeito ou de outro, somos iguais. Iguais nos medos, nas dúvidas, nas “cagadas”
que fazemos pela vida afora, no amor que não deu certo e naquela maldita chance
que a gente não deu para alguma pessoa ou situação que poderia ter mudado
completamente, de um jeito bom e surpreendente, o rumo de toda a nossa
história.
Ela
tem me falado muito sobre perceber tardiamente a importância dos outros, em
insights “retardados” que só chegam muitos anos depois, quando não existe mais
o menor vestígio do leite derramado. Ela fala com grande sabedoria e aceitação
sobre isso e me faz entender que tudo é nosso, sabe? Temos que aceitar a gente
sempre com amor, mesmo reconhecendo que boicotamos a nós mesmos. Mas no fundo
eu percebo uma pontinha de tristeza no olhar, às vezes perdido, vislumbrando,
quem sabe, uma vida diferente do que foi.
Nunca
vamos saber como teria sido. O que poderia ter sido. E isso não é mesmo um
sentimento dos melhores. Hoje escutando sobre uma história de amor que nunca
foi história e que nem mesmo foi amor, me vejo em cada palavra, em cada olhar,
em cada silêncio dela. Quando eu olho pra trás vejo que poderia ter sido você o
amor que eu nunca tive, você que eu não percebi, você que não me percebeu. Você
que foi embora antes da hora. Você que ficou sem que eu quisesse. Você que não
apareceu naquele dia que eu esperei. Eu que desisti antes do fim. Você que não
me viu como eu gostaria que tivesse visto. Eu que nunca nem notei o seu amor
por mim.
Isso
é vida. Isso é a história de cada um.
E
hoje, aqui um pouco dolorida, carrego em mim o desejo de que, quando eu estiver
no lugar da minha cliente, quem sabe contando a minha própria história, que eu
dê um sorriso bem gostoso, um suspiro só meu, uma despreguiçada daquelas de
quando a gente está bem feliz (sabe?), com o coração bem aconchegado e finalize
o livro, escrevendo DE-LI-CI-O-SA-MEN-TE: que bom que foi você!