sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

A iminência da perda


Ontem passei um apuro danado, o Pixe, o gato mais velho aqui de casa, ficou desaparecido por 24 horas e quase nos matou do coração. Foi um dia aflitivo, doloroso e muito fantasioso. O fato de não saber ao certo o que havia acontecido com ele me fez viver diversos filmes de terror em forma de imaginação. Imaginei ele machucado sem conseguir voltar para a casa, perdido, com fome e sede... mas a imaginação mais dolorida, de longe, foi a morte. Pensar na morte me trouxe lembranças inúmeras do jeitinho dele, das manias e da história dele com a gente. 

O Pixe surgiu na nossa vida de supetão, de um jeito totalmente impensado. Nunca tínhamos tido gato na vida e eu nem sabia como cuidava desse "trem", mas quis atender um pedido da Bia, minha filha, que já me azucrinava há um tempo querendo viver a experiência de ter um gato. Na véspera do aniversário dela, de 16 anos, soube que tinha um gatinho preto para adoção na clínica de uma amiga, fui lá ver e me apaixonei pelo piquititico... era o Pixe! No outro dia coloquei ele dentro de uma caixa de sapato, embrulhei, com cuidado, e levei pra Bia. Foi a cena mais linda de ver, a emoção que ela sentiu na hora que viu o gatinho (ela nem imaginava o que tinha na caixa!), acelerou o coração de todo mundo da família! Pronto, o "rei" do pedaço chegou para mandar na mulherada! E literalmente ele manda em nós, há lindos 3 anos e 2 meses. 

A Bia estava atravessando um tempo difícil nessa época (adolescência sabe como é, né?) e o Pixe a acalmou de um jeito incrível. Gatos, pra mim, são anjos, seres iluminados, muito mais evoluídos que nós. Mudou a energia da casa, aumentou amor dentro da gente. Um presente pra Bia e de tabela pra família inteira. Amamos tanto ter o Pixe que um ano e pouco depois adotamos também o Xexéu, outro fofo. Ontem o que mais me partia o coração era ver a tristeza do Xexéu, procurando o "irmão". E eu, no meu mundo da imaginação sombrio do momento, já pensava: "Meu Deus, vou ter que arrumar outro gatinho, se não o Xexéu vai morrer de tanta tristeza". 

Felizmente dez da noite veio o miado forte do Pixe na porta da cozinha e a alegria voltou a reinar na casa das meninas apaixonadas. Desconfio que não foi um rolê estendido, ele é castrado, nunca havia feito isso, desconfio de sequestro... mas isso deixa pra lá, importante é que ele está com a gente de novo.

Hoje olhando os dois irmãozinhos dormindo juntos fui invadida por um sentimento gostoso de recuperar o perdido, de encontrar, de reencontrar, de alívio por nenhuma imaginação sombria ter se realizado. Essa sensação me trouxe a viagem para escrever esse post sobre a iminência da perda nas nossas vidas. A perda é real, tudo pode acontecer, a qualquer momento e esse TUDO não está, absolutamente, no nosso controle. Que coisa, né? E mais assombroso é que, mesmo sabendo que essa perda pode acontecer a qualquer momento, vamos vivendo, do mesmo jeitinho, como se fosse ser sempre assim, aí não somos totalmente sinceros, não gastamos todo o amor que temos pra dar, ridicamos sorrisos e abraços, economizamos visitas, ligações, viagens, elogios... vamos vivendo automaticamente naquela "certeza cega" de que amanhã tudo e todos estarão aqui e a vida será da mesma forma que hoje, sem tirar e nem por. Que ilusão!

Ah Pixe! Até nisso você me ajudou... refletir sobre essa perda iminente e no risco que é viver às cegas. O ensaio da perda mexeu um tanto aqui dentro. Gratidão lindão nosso! Obrigada por voltar pra gente e por nos deixar te amar tanto! Tanto e tanto e tanto, agora muito mais... até que um dia a perda chegue de verdade e, quando chegar, eu vou, com certeza, me lembrar que a vida me deu mais uma chance de te amar um pouco (ou um tanto) a mais.