quinta-feira, 16 de julho de 2020

O último boleto


Este mês me preparei para pagar o último boleto da faculdade da Cibele, minha filha mais velha, que acabou de se formar em Cinema, na PUC de Belo Horizonte. Na espera pelo boleto fiz uma viagem pelo tempo, pela nossa história juntas e me lembrei de quantas e quantas vezes em que eu pensei: "Ai meu Deus, será que eu vou conseguir?", pergunta que rodeou meus pensamentos em muitas ocasiões: quando descobri que estava grávida, quando ela nasceu, quando ela chorava a noite inteira com dor de ouvido, quando nos mudamos para Mato Grosso já com a Bia, a segunda filha, a caminho de completar a nossa familinha (que se tornou o clube das mulheres!), quando bateu a síndrome do ninho vazio... tive tanto medo de não dar conta! Chorei tantas vezes sozinha para as meninas não perceberem a minha fragilidade momentânea!

Quando entrou na faculdade, no dia da matrícula, enquanto a Cibele, sem nem solicitar a minha ajuda, foi preencher a papelada, eu fiquei sentada vendo aquela pessoa toda independente me dar o sinal de: "pode deixar que agora é tudo comigo", que cena! Eu chorei, né? Claro! Chorei de alegria e de preocupação. De alegria por ver a minha pequena se tornando adulta e de tristeza por não saber se teria condições de pagar aquelas parcelas tão caras, pelos longos quatro anos pela frente. Mas a Ci é tão descolada e antenada, que arrumou toda a papelada e conseguiu 50 % de bolsa, o que facilitou pra mim enormemente! Ufffa! 

Nestes quatro anos eu vi a Cibele se intelectualizar, formar suas próprias opiniões, amadurecer, se virar, correr atrás de trabalho, de sonhos e de conseguir praticamente tudo o que quis. Menina danada, não me deu um pingo de trabalho e me encheu de orgulho, tantas vezes. É claro que ela deve ter feito lá as farras com os amigos incríveis que ela fez na faculdade e deve também ter feito algumas "cagadas", que nunca chegaram aos meus ouvidos ou nunca tiveram consequências trágicas que precisassem da minha intervenção... hahaha... Graças a Deus! 

E veio a pandemia... essa loucura toda que estamos vivendo. A filhota começou a fazer a quarentena em BH, mas no primeiro sinal de medo e pânico, eu e a Bia saímos daqui e fomos na "capitar", num cansativo bate e volta para buscá-la, e desde então ela ficou aqui comigo. Nestes quatro meses eu acompanhei os últimos momentos da faculdade on line e o trabalho de home office no estágio na Rede Minas, como auxiliar de produção do programa Brasil das Gerais. Foi aí que eu pude conviver pela primeira vez com a minha filha adulta e, sem querer jogar confetes, já jogando, fiquei encantada com a desenvoltura da menina (mulher!), sempre tão esperta, falante, com soluções que saem da caixola com uma facilidade, admirável!  Fiquei realmente impressionada com o que vi e ouvi.

Hoje aconteceu a colação virtual, uma cerimônia simples,  até que rápida, só para os formandos poderem já pegar seus diplomas. Não foi nada do que a gente sonhou, mas se tem uma coisa que a vida me mostrou é que podemos nos adaptar a tudo, né filha? E assim é que o novo tempo se apresenta, um tempo de adaptações e incertezas. 

Querida filha, muitas vezes na vida você também vai se perguntar se vai dar conta, algumas vezes a gente duvida da gente mesmo e duvida da nossa força interna... mas o que eu queria te falar hoje é que a resposta vai se apresentar sempre afirmativa: sim, nós damos conta! Quando tudo parecer perdido é só respirar fundo, que a solução está logo ali, com um bebê lindo que nasce para iluminar a vida, com ajudas que surgem do nada, com um remedinho fantástico que cura a dor de ouvido, com uma nova vida que vem para fortalecer, com trabalhos que brotam nos tempos mais difíceis que pagam as nossas contas. A solução sempre vem quando a gente tem fé. Então o que eu desejo pra esta nova etapa de vida é que você tenha muita coragem e fé. Tudo que vem é pra bem! Quero poder te aplaudir e me orgulhar de você ainda muitas vezes e tenho certeza que o farei. 

Este texto é meu presente de formatura pra você, que é tão perfeita que até se enganou sobre o número de parcelas... me dando um suspiro daqueles mais gostosos! Hahaha... o último boleto não veio, a última mensalidade era em junho e quando eu descobri que julho não precisava pagar eu tive aquela sensação delícia de quando a gente encontra um dinheirinho perdido num casaco no armário. 

Brilhe querida, o mundo é o limite pra você. Você pode tudo, sempre vai poder.
Beijos com amor, da mamãe orgulhosa!