sexta-feira, 28 de junho de 2019

A solidão nossa de cada dia


Terminei de ler hoje um livro que ganhei no natal, do Leandro Karnal: "O Dilema do porco espinho - como encarar a solidão". De cara: RECOMENDO. Super recomendo. Li bem devagar, porque é forte o trem, precisei absorver muita informação preciosa e comparar com minhas vivências nesse quesito. Eu sempre fui meio "sozinhona" na vida, mesmo nos tempos de "badalos" constantes, rodeada de gente, família, filhas. Com o livro algumas fichas caíram. É bom. Tem que ter coragem para ler e reconhecer os monstrinhos nossos escondidinhos aqui, mas é muito bom. Com o tempo aprendi a me dar bem com a solidão, gostar da minha companhia, ficar em paz sem ter que necessariamente estar acompanhada e, como está explicado no livro, quando a solidão é benéfica ela é chamada de solitude, coisa boa que, garanto, não dói. 

Lendo hoje a última parte me senti de mãos dadas com o Karnal, compartilhando das mesmas ideias, é spoiler viu, gente? Se você quiser ler esse livro abandona esse post agora! rsrsrs... ele escreveu: "Desconfie de quem se isola sempre. Desconfie ainda mais de quem nunca se isola. Confie pouco em quem vive conectado. Tenha compaixão pelas pessoas que estão tão desesperadas para evitar a solidão que vivem de festa em festa, de post em post, de bar em bar levando seu desespero para beber. Solidão bêbada não ilumina, apenas tropeça e amanhece mais triste na calçada...". Nossa! Pausa para respirar. Isso é muito real, né? Quanta gente sozinha por aí com medo de encarar a si mesmo. E quanta gente sofrendo! Sofrendo até mesmo sem saber, entorpecidos pelos prazeres fugazes que o mundo oferece. 

E Karnal arremata: "Viver exige pausas, pensar implica certo isolamento, ser feliz com quem você ama é, acima de tudo, ter a experiência da solidão antes e durante o amor. Você precisa de muitas pessoas. Viver é amar e amar implica outros seres. Lembre-se apenas de que você também precisa de você e esse mergulho em si é vital. Quando olhar alguém em uma mesa de restaurante sozinho e feliz, passeando em um parque sem ninguém e pleno, quando ligar para alguém e a pessoa em um sábado à noite disser com serenidade: "Eu estava aqui pensando e lendo tranquilo", não se esqueça de lhe dar os parabéns. Aquela pessoa já descobriu a faceta libertadora da solidão tornada amiga e está apta para voltar ao convívio dos outros porque já convive consigo. Se você não se suporta, quem conseguirá fazê-lo?". 

E finish! Matou a pau. Gostei demais desse final. Se a gente não suporta ficar sozinho, quem poderá suportar a nossa companhia? 

O outro é muito importante na vida da gente, como aprendemos com a convivência com as pessoas! O outro é nosso espelho, se soubermos olhar a fundo podemos enxergar o que precisamos melhorar, ficamos cara a cara com os nossos defeitos. O outro é um grande desafio, se bem aproveitada a convivência nos liberta de muitas mazelas interiores. Mas olhar pra dentro... ah gente! Dói mas é completamente necessário! Auto conhecimento é vida e só podemos alcançá-lo em solidão. As vezes a gente precisa da gente mesmo, em isolamento,  para no futuro ser melhor pro outro. 

Se pensar bem, no fim das contas, nascemos sozinhos nesse mundo e vamos embora dele também sozinhos. Então viver é uma experiência individual e o outro, amigos, amores, família, são alegorias que Deus presenteou para nos dar um pouco de alegria (ou de tristeza) enquanto passamos por aqui para aprender que tudo, absolutamente tudo, é de dentro pra fora e nunca o contrário.

Vish... esse assunto dá pano pra manga, ficaria devaneando aqui a noite inteira e ainda assim teria assunto para boas prosas. Para quem não entende e não encara bem o desafio de ser só, leia Leandro Karnal, algumas fichas cairão e vai ser para bem, viu? 

Pra encerrar e incentivá-lo a ler, encerro com o resumo que o próprio escritor fez da obra: "Conseguir o exercício da solidão-solitude como um prêmio, fruto do seu esforço, um privilégio de busca, uma maturidade de vida, foi isso que falei o tempo todo". 

 Pra mim valeu muito! 



quinta-feira, 27 de junho de 2019

A vida e o vento



Eu adoro sentir o vento.

Adoro olhar o vento brincando com meu filtro dos sonhos, com as roupas no varal, com o cabelo e com as folhas das árvores. Amo ver o vento levantar poeira, fazer redemoinho... e quando o vento mantém no ar algo leve por um tempo, como uma folha, uma pena? Ai! Entro em êxtase! Amo a dança do vento! É como se eu pudesse ver o invisível, o inatingível... e posso imaginá-lo com cara de sapeca e mãos sorrateiras, empurrando a pena para lá e para cá, como uma criança com uma bola de bexiga na mão.

Hoje estava observando o vento brincando, batendo de mansinho no meu rosto e senti uma coisa tão boa! Parecia alguém muito querido vindo me abraçar! Tinha gostinho de novidade, de surpresa boa da vida, que vem para alegrar a alma. Parecia um tempo novo soprando em minha direção. 

Eu tenho mania de poetizar essas coisas, sou assim sonhadora e "viajandona" desde pequena,  penso sempre que o vento vem para trazer coisas boas e levar as tristezas. Se pensar bem acho que é real! O vento às vezes traz chuva e chuva traz abundância! O vento às vezes traz frescor no calor (menos em Cuiabá, que o vento é tão quente que parece que estamos de cara com uma churrasqueira... rsrsrs...), tem coisa melhor que um ventinho geladinho quando estamos suando em dias quentes? O vento soprado pela mãe, quantas e quantas vezes aliviou o machucado da gente, né? Acho que tem sentido então achar que ele trás coisas boas! 

A gente não pode ver o vento, mas a gente sente. É como o amor, né? Não dá pra mensurar, para ver, para tocar... só para sentir. Mas o amor também sopra, cumpre sua missão e se vai, como o vento. Aí eu vou mais longe e penso que se a gente sente amor, sente o vento e tantas outras sensações invisíveis e impalpáveis, a vida e a morte também devem ser como o vento. Se tudo é criação de Deus, a vida da gente também deve sempre passar e seguir como o vento, mesmo depois da morte. Nascemos e viramos vento. Morremos e viramos vento. Muitos ventos pensantes! 

O pensamento venta.
A tristeza venta.
A dificuldade venta.
O dia venta.
A noite venta.
O frio venta frio.
O calor venta amor.

E eu continuo adorando toda ventania, real e irreal, que mora dentro de mim. 





Maledicências, falta de noção e afins...


Hoje o papo no almoço rolou em torno da falta de bom senso que algumas pessoas teimam em manter. Morremos de rir da Rafa contando que uma pessoa a advertiu ao vê-la fumando, porque ia matar o "bebêzinho" que ela carregava na barriga, barriga essa que não contém "bebêzinho" nenhum. Não contente com a negativa de que tinha um ser humano sufocado pela fumaça do cigarro dentro da barriga, a rainha da falta de bom senso ainda insistiu que ela estava grávida sim... hahaha... rimos muito, rimos porque parece piada, não dá pra acreditar que existe gente tão sem noção assim nessa vida!  Dá até pra pensar que a pessoa faz isso de maldade, não é mesmo? Gente, não existe uma mulher que goste de ser apontada como gordinha. Me fala se tem? Eu já passei "N" situações do tipo, ai que raiva que dá! Já até colocaram uma vez a mão na minha barriga e perguntaram: "É o que eu estou pensando???", eu respondi: "É! GORDURA!!!". Ah, pelo amor de Deus, né?

A tal da maledicência não é uma unanimidade de Pedralva, não seremos injustos, tem em todo lugar, mas pela nossa cidade ser tão pequena, esse tipo de coisa fica muito em evidência por aqui. Eu penso assim: se você não tem intimidade com a pessoa, sabe muito pouco ou nada sobre a vida dela, não pode opinar, julgar, e muito menos questionar qualquer coisa! Afe... é irritante! Tem gente que se acha no direito de comentar sobre a sua vida numa rodinha, como quem fala de uma novela, uma série, um filme, que julga sem saber sua realidade, que espalha coisas inverídicas para ver o circo pegar fogo. Que preguiça de gente assim! 

Algumas pessoas julgam os outros ou suas atitudes de acordo  com o seu modo de interpretar a vida, com sua educação, intelectualidade, vivências, etc... então se a pessoa é pequena, ela irá interpretar tudo de um jeito pequeno, mesquinho, intolerante. Ninguém pode saber e fazer comentários sobre a vida de alguém porque não está vivenciando o que a pessoa sente, vive e sofre. O universo íntimo de cada um é muito particular e é um terreno infiltrável. Não sabemos as batalhas internas que as pessoas estão enfrentando, tem gente que sofre tanto e não demonstra, tem gente que é tão feliz e que vive sério e preso em casa, aparências são aparências, não evidências. 

Falar do outro em Pedralva parece que é esporte, é diversão. As vezes a pessoa é tão infeliz que ela tem que apontar o defeito e acontecimento da vida de alguém para se sentir menos inferior. Gente! Vai rezar, vai estudar, vai fazer uma caminhada para melhorar a saúde, vejam quantas montanhas lindas nós temos em Pedralva! Olhar para elas é um jeito de limpar nossa alma! Olhe, aprecie! Nossa terra é riquíssima em belezas! Vai fazer qualquer coisa, mas deixem a vida dos outros em paz! Sejam mais compassivos, se coloquem no lugar dos outros, esse é um exercício e tanto de compaixão que vale a pena ser feito, te deixa mais humano, mais coerente e te faz ser uma pessoa melhor. 

Ainda assim, aqui é um encanto. Apesar da fofocagem que assola (será que vai ser sempre assim? Que preguiça!) tem aquelas pessoas boas, simples, que só com um olhar e um sorriso já te dizem em silêncio : "eu estou torcendo por você", "eu te admiro", "ai que feliz que estou por te encontrar", pessoas que tem elegância na forma de ser e agir. Quando encontro gente com esse perfil eu me reenergizo imediatamente, o coração da gente fica até quentinho, aí a pessoa é tão querida que vem e te dá um abraço apertado, ai que delícia que é! 

Do contrário, a gente sai é com muitos quilos a mais de tanta energia ruim... e às vezes sai até com um filho inexistente dentro da barriga... só por Deus!




segunda-feira, 24 de junho de 2019

Amizade / Juventude


Já escrevi muitos posts no blog devaneando sobre amizade. Esse assunto para mim é inesgotável, tamanha a relevância que ocupa na minha existência (e no meu coração!). A maior bênção que eu carrego é ter feito e deixado ótimos amigos por onde passei e sempre me encanta que tempo e distância nunca conseguiram acabar com o carinho e a sintonia que construí com algumas pessoas. Construção é a palavra exata para definir uma amizade que se torna eterna, quando eu precisei você estava lá, quando você precisou eu te abracei e falei com carinho: "Estou aqui e não sairei do seu lado!", nos divertimos juntos, fizemos coisas erradas, dançamos, bebemos e traçamos planos, ousamos sonhar e planejar um futuro maluco, nos apoiamos, puxamos a orelha um do outro e brigamos, inúmeras vezes... amizade é uma construção que sobrevive quando existe uma base forte. A gente nunca esquece quem um dia nos amparou, não é mesmo? 

Esse fim de semana tive a alegria imensa de reencontrar em Belo Horizonte uma amiga desse "naipe": a Daniela Brandão. As amizades bem construídas nos presenteiam com a deliciosa sensação de que nunca saímos do lado daquela pessoa e foi exatamente assim que me senti em cada minuto com a Dani. Falamos sem parar, demos risada, colocamos anos de vida em dia e curtimos muito estar juntas, porque a gente sabe e sente quando é recíproco, né? A amizade das antigas tem também um poder único de devolver pra gente um pouco da juventude perdida, o amigo é capaz de fazer a gente se lembrar de atitudes e histórias esquecidas pelo tempo, a gente se recorda quem foi e quem nunca deixou de ser. A Dani é aquela amiga que faz você acreditar que não importa o que esteja acontecendo, que tudo vai dar certo. É uma amiga que ouve, uma amiga que sente. 

Voltei pra casa pensando na amizade e na juventude, essas duas "coisas" tão preciosas que trazem VIDA pros dias da gente. Pensei no quanto é necessário e vital fazermos manutenção temporária nas duas. A gente PRECISA se reencontrar, a gente PRECISA se divertir, rir, falar, estar junto e continuar tendo a certeza que pode contar com aquela pessoa. A gente precisa SENTIR que a vida tem graça. A vida é uma coisa estranha, a rotina, o excesso de responsabilidades e os problemas inúmeros do dia-a-dia nos afastam de quem somos de verdade, dos amigos, de quem gostamos de ser. A "vida de gente grande" nos engole e nos massacra se a gente deixar. Será que eu estou viajando? É só eu que sinto isso ou você também sente? Talvez seja uma viagem, mas é o que eu sinto.

E pensar que a gente sempre deixa tudo pra depois... "Ah, eu falo com ela outro dia!", "Ah, não vou, estou cansada", "quero muito te ver mas estou sem dinheiro para viajar"... e seguimos cegos imersos na certeza da eternidade. A gente deixa para depois, mas depois pode acontecer tanta coisa, não é mesmo? Eu estou apontando dedo mas tem outros quatro aqui viradinhos para mim, sou a mais acomodada e que acredita que um contato, uma visita, um encontro pode esperar. Não pode esperar. Quem perde de ver e estar com uma pessoa querida e importante na nossa vida é a gente mesmo, porque esses encontros deliciosos, como o da Dani, nos renovam, nos energizam e nos fazem ser muito, muito, muito, muuuuuuuuito gratos por tudo que construímos juntos. 

Encontre, beije, abrace, fale mais do que a boca.
Seja o presente para alguém e viva o presente que Deus te deu. 
Não tem preço. 

Com amor para você Dani!
Com amor para todos os amigos preciosos (carapuças servirão), espalhados por esse Brasilzão e além,  que tenho a honra de ter aqui, bem coladinhos à minha alma!

Gratidão por todos.





sexta-feira, 21 de junho de 2019

Sair de cena



Um antigo namorado se irritava profundamente comigo quando, em alguma discussão acalorada, daquelas que a gente sabe que não vai chegar em lugar nenhum, eu virava as costas e saía de cena. A intenção não era ignorar, apenas deixar os ânimos se acalmarem e esperar pra resolver a pendenga quando fosse possível conversar coerentemente.

Sair de cena é terapêutico às vezes. Só a gente mesmo pra saber quando estamos ou não preparados pra enfrentar alguma situação. Eu sempre tive comigo como aliadas a quietude e a solidão, é só na oportunidade de introspecção que a gente se cura, se levanta, programa uma vida, uma saída, uma revolução. 

Sair de cena te dá amplitude para olhar de fora uma situação emperrada. Todos precisamos de tempo e espaço para assimilar coisas da vida da gente, principalmente aquelas que não temos o poder de resolver, então meu filho, o que não tem remédio remediado está, não é mesmo? E é só saindo de cena pra saber de verdade se o caso tem remédio ou não.

O tempo é uma belezinha pra ajudar a gente a pensar, a sentir melhor, a rever e ressignificar tudo o que passou. Eu amo o efeito do tempo na vida, sabe? Ele acalma o coração, silencia a mente e traz normalidade para os nossos dias.

O sentimento deu nó, o coração apertou, a discussão esquentou, o projeto não anda, a vida não acontece??? Sai de cena! Vai olhar pra outro lado, vai ver a natureza, o problema de outra pessoa que é maior que o seu, vai cuidar de alguém, vai reprogramar sua vida, mas não fica parado vendo o barco afundar.

O fundo do poço é opcional. Aguentar desamor é opcional. Engolir sapo, apesar de fazer a gente crescer e baixar a bola,  também é opcional. 

Vá e veja as infinitas possibilidades que uma saída de cena pode te proporcionar. O distanciamento pode fazer milagres. A cena é sua e o filme da sua vida só você, em quietude, pode criar, cortar, prolongar, encurtar, embelezar ou entristecer... a história ser bonita ou feia só depende de você e quando temos a exata noção de que somos nós os grandes criadores de tudo o que acontece de bom e ruim na nossa vida, quando deixamos de culpar os outros pelas nossas mazelas, quando assumimos completamente a responsabilidade pelas nossas escolhas e atos, aí sim... podemos voltar à cena e mostrar ao mundo o melhor que nós podemos ser e fazer. 



segunda-feira, 17 de junho de 2019

Aila - A menina luz!


A vida já me permitiu viver coisas muito bonitas. Ver a Aila nascer está em primeiríssimo lugar na minha lista de eventos lindos. Foi de longe a emoção mais diferente e mais cheia de significados que pude vivenciar. Ando nostálgica nos últimos tempos, tentando resgatar e ressignificar o passado para fazer parte de mim de uma forma mais agregadora.  Sabe aqueles tempos que você tenta descobrir quem é? Tempos em que coisas que você viveu parecem não ter sido vividas por você? Soando paranóico?  Rsrsrs... Xi! Tá! Hahahaha...

Lembro como se fosse hoje de pegar a Fernão Dias de noitão em busca da luz que a Aila ia trazer pra gente. O nascimento seria em Extrema, cidade que eu nunca tinha visitado antes, então o desafio já começou daí, encontrar de madrugada, com meu co-piloto super querido, onde estava a Ângela em trabalho de parto. Mas como as estrelas de David que guiaram os Reis Magos, nós fomos guiados por amor e encontramos facilmente, em um quarto de um hotelzinho, a Ângela, já com muita dor, se entregando inteira para aquele momento mágico. No quarto meia luz aconchegante, uma musiquinha deliciosa tocando e uma playlist de fazer chorar, preparada com todo cuidado pelo paizão dedicado. Ângela parecia dopada pelas contrações que a retorciam em êxtase e Edu, carinhosamente a massageava nas costas e na barriga, a abraçava e se fazia totalmente necessário na cena, junto às doulas.

Com a evolução do processo fomos todos para o hospital e ficamos num quarto preparado cuidadosamente para o parto humanizado. Meia luz, som ambiente de primeira qualidade, equipe humana e preparada, Edu ora dedicado, ora desengonçado, do jeitinho que ele é mesmo e eu, orgulhosamente, registrando todo o encantamento com meus click's irritantes (lembra Ângela? Rsrsrs...). O barulho do disparador da câmera era o único inconveniente do momento. Mas o registro era vital, num tinha jeito!  

Ora éramos platéia, ora fazíamos parte do pacote energético, fazendo força sem nem perceber, junto com a brava parturiente, que ora chorava, ora sorria, na dança insana das contrações cada vez mais numerosas e com intervalos curtinhos. Foi um lindo processo.

Ângela deu à luz à Aila de cócoras, quase pra nascer o dia, ela foi de uma bravura encantadora, e, no momento que o corpinho frágil da esperada menina terminou de chegar, todos choramos. Abraços, beijos, lágrimas, momentos únicos eternizados no nosso coração. Que experiência incrível! O parto humanizado é de um respeito tão grande com a mamãe e o bebê que eu só queria voltar no tempo e ter minhas filhas de novo, com toda aquela magia. Vamos deixar isso para uma próxima vida, ok? rsrs...

Tenho certeza que a forma como a Aila nasceu moldou parte da personalidade dela naquele momento. Aila hoje é uma criança que brilha, livre, leve, feliz! E a gente ama tanto! 

Essa semana ela está completando 4 anos, tem um olhar expressivo e uma alma de quem quer TUDO da vida! Serei grata eternamente pelo presente que foi participar desse nascimento. Com ela eu passei a ter um outro olhar sobre mim mesma, sobre a vida e o nascer e sobre  a riqueza que é ter a amizade da Ângela e do Edu.

Nunca nos esqueceremos.
E o nosso amor... ah! Esse é pra sempre e crescente, com toda a certeza!

domingo, 16 de junho de 2019

Perdas e papel toalha



Perder faz parte da vida. Perdemos o dia quando chega a noite, perdemos a hora e a oportunidade. Perdemos peso (ah! Isso é bom! Rsrs...) e perdemos tempo, quando desperdiçamos a vida. Perdemos o emprego, perdemos a fome. Perdemos pessoas, para a vida ou para a morte, isso sim, é muito triste. 

Eu moro numa cidade muito pequena e, por ser pequena, ficamos sabendo de todos os falecimentos, que são inclusive anunciados no auto-falante da igreja (bem coisa mineira!).  Como conhecemos quase toda a população, sofremos juntos com os familiares daqueles que se foram. Nos últimos tempos Pedralva está de amargar, muita gente querida e conhecida indo embora, na última semana então... meu Deus! Só deu velório na programação da cidade. E no ar, dessa cidadezinha tão pequena, amorosa e acolhedora, fica um vazio, um sopro de tristeza. Todos sentem, porque todos se gostam. 

Muitas vezes eu perco o pensamento analisando porque ainda estou morando aqui, principalmente naqueles dias em que dá vontade de mudar tudo na vida, sabe? Meu trabalho posso fazer remotamente, mas seria muito mais fácil e prático se fosse feito próximo dos meus clientes, ou seja, longe, muito longe! Mas eu não vou por isso, porque aqui as pessoas se gostam, sofrem e se alegram juntas, se importam umas com as outras, olham nos olhos, se abraçam! Fofocam também, são muitas vezes maledicentes, mas o amor em comum é tão mais forte e atraente que as picuinhas! Aqui é assim. 

Os últimos tempos estão difíceis, né? Pra gente, pro mundo. Muitas perdas! Muitas escolhas erradas com consequências desastrosas, em todos os âmbitos, política, economia, sociedade e vida pessoal. No que cabe a mim o último ano foi o que eu mais chorei na vida... acho! Muita lágrima mas também muito crescimento, e talvez seja esse mesmo o papel da perda, fazer a gente crescer, reconhecer os erros, valorizar as pessoas e quem sabe tentar fazer tudo diferente. 

Nesse tempo de lágrimas descobri a melhor função para o papel toalha, tenho que repartir isso, chega a ser até uma utilidade pública. Uma única folha de papel toalha aguenta firme um acesso de choro de pelo menos meia hora! É sério! Não desejo que você tenha motivos para chorar só para experimentar minha “descoberta”, mas se tiver, experimente! É tiro e queda. Hoje mesmo estou na base do papel toalha, foi triste voltar pra Pedralva depois de uma semana trabalhando fora, justo numa semana de perdas tão significativas, de várias famílias que eu tanto admiro. Estou triste e ainda sem forças de ir visitar os amigos, ainda tenho um rolo de papel toalha pra gastar, porque ninguém merece ir visitar os amigos que perderam seus entes queridos e ainda ter que ser consolada por eles. Então já já eu vou, viu pessoal? 

E é isso... papai do céu, dá um tempinho pro coração dos pedralvenses! Deixa a gente respirar um pouco! Está certo que todos nós vamos qualquer hora dessas, mas não precisa ser tantos de uma vez.

Um beijo no coração de quem perdeu uma pessoa da família, um amor, um emprego, a saúde... a perda faz parte da vida, infelizmente é assim, nós só não podemos nunca é perder a fé... porque a fé é o que faz a gente continuar, mesmo com tantas perdas.



sábado, 15 de junho de 2019

Meia com chinelo



Outro dia, logo quando o friozinho chegou, morri de rir de uma postagem, de uma amiga muito querida e engraçada (essa é pra você Cat!), exibindo uma foto de um pé vestido com uma meia dentro de um chinelo, com o questionamento: “Já pode ou ainda tá cedo?”.  Olhei pra baixo e me vi na postagem, morri de rir! Eu sou a “mestre” da meia com chinelo, achei graça! Tirei uma foto do meu pé e postei nos comentários com a frase: “Juro!!!”. Os comentários do post foram os melhores! Ri muito.

Meia com chinelo é um conforto, um carinho! Adoro! Fiquei pensando depois a delícia que é poder trabalhar em casa e me despojar à vontade do modelito nada charmoso. Com o tempo eu fui me desapegando de tudo que aperta, sufoca e incomoda. Salto alto não uso há aaaaaaanos! Calça justinha pra apertar a barriga então, daquelas que a gente tem que deitar na cama pra fechar, nem se fala! Daí eu penso: será que eu fui perdendo a vaidade com o tempo?... hum, acho que um pouco! Mais jovem eu era elegante (bom, pelo menos eu me via assim... rsrs...), dos 20 aos 35 eu nem tinha sandália baixa, o salto não saía do pé, as roupas caíam bem mas eram apertadas, sempre que chegava do trabalho me sentia uma massa de pão sovado, exaaaausta com tanto aperto. A liberdade e a gostosura de sair do aperto e descer do salto eram tão grandes que penso que com o tempo fui preferindo soltar, não tem nada melhor do que o conforto do vestir, do calçar e do SER.

Talvez eu perdi muito da vaidade sim e até fui mais a fundo, como o fato de assumir os grisalhos e abandonar o ardume horroroso da tinta no couro cabeludo, que me acompanhou por 20 anos. 
Saiu de cena a vaidade exarcebada e entrou a simplicidade, o sentir-se bem por dentro. No espelho não vejo mais jovialidade, elegância, não me sinto mais atraente, mas no fundo dos olhos eu vejo liberdade. Ah! Então vamos evitar espelho, né mesmo? Rsrs... liberdade já está de bom tamanho. 

Aí me deparo muitas vezes com o olhar alheio um pouco espantado direcionado a mim, com o passar do tempo também fiquei “mestre” em ler olhares. Alguns se incomodam com o cabelo branco, com as gordurinhas extras e as roupas largas, dá pra ler: “nossa, como engordou! Nossa, como envelheceu! Nossa, nossa, nossa!”, se as pessoas pudessem nos ver por dentro, né? Se pudessem ver o quanto é bom e confortável um chinelo com meia, cada um ia cuidar mais era do seu próprio conforto. 

Se você me olhar bem no fundo dos olhos será incapaz de emitir mais um único “nossa!”.  A liberdade de ser só os usuários de meia com chinelo são capazes de entender... e se deliciar! 


terça-feira, 4 de junho de 2019

Roupas no varal


Eu amo estender roupas no varal. Gosto excêntrico, né? Amo a ponto de ficar brava quando alguém resolve fazer uma gentileza ao passar pela máquina de lavar no momento exato em que ela faz o barulhinho, apontando que terminou o "serviço", e toma a iniciativa de pendurá-las pra mim. Amo a ponto de inúmeras vezes acompanhar a centrifugação ao lado da máquina para não deixar ninguém tirar de mim esse prazer. Como diz o velho ditado: "cada louco com a sua mania", não é mesmo? 

Estender roupas pra mim é um ritual, gosto de esticá-las bem certinho, bonitinhas, todas bem retinhas! Ai que felicidade um varal organizado! Gosto mais ainda quando o sol está forte, imponente, voltado diretamente para as roupas úmidas. Quando venta então e elas começam a dançar, ahhhh! O prazer se multiplica! Quando posso fico tempos observando o meu varal. O varal me ajuda a pensar, analisar a vida. Detestei as vezes que morei em apartamentos com as áreas de serviço minúsculas que mal batiam sol. Não adianta, quem nasce pra sol e quintal nunca se acostuma a viver em "caixinhas". Quer dizer, acostumar até se acostuma, mas nunca será o objeto de desejo da alma! 

Eu acho que as roupas no varal me remetem a pensar no efeito do tempo nas nossas vidas, sei lá! Quando o sol está bom elas secam rapidinho, mas em dias de chuva consecutivos é um "Deus nos acuda", não é mesmo? Na emergência até o lado de trás da geladeira entra na dança pra ajudar a secar mais rápido... quantas e quantas vezes na vida a gente também não se utiliza de recursos para acelerar o tempo, acelerar uma solução de um problema, forçar a barra de uma pessoa que não te responde numa rede social e tantas e tantas situações adversas... mas olha, roupa que não seca direito tem cheiro ruim, vale a pena forçar a secagem? Acelerar o tempo das coisas também cheira mal! É o famoso "meter os pés pelas mãos". Tudo tem um tempo certo, acho que é por isso que eu gosto de olhar meu varal e ver que as roupas estão lá bonitinhas a caminho de um ótimo resultado do tempo, sem interferências externas. Deixe, deixe! Deixe que elas secam!

As roupas que custam a secar tem muito a ensinar, a falha no planejamento (por que não lavou mais cedo?), a necessidade de paciência (calma, já já seca!), a abertura para novas possibilidades (esquece a roupa molhada, espia no guarda-roupa quantas oportunidades?) e a entrega (ok, você venceu roupa molhada querida, seque aí à vontade, no seu tempo), viu? O varal é uma completa terapia!  

A minha maior recompensa é a hora da conclusão do processo: tirar do varal as roupas secas e cheirosas, ajeitá-las carinhosamente e guardá-las em suas moradias. Sensação de dever cumprido, sensação de compreender como a vida funciona, sensação boa de entender que não adianta forçar nada nessa vida porque o que tem que ser, secagem rápida ou dias seguidos no varal, vão sempre fazer parte do nosso ciclo de crescimento, de aprendizagem... e isso o lado de trás da geladeira nunca poderá fazer por nós. 

A secagem forçada é só um paliativo.
Secar de verdade é o que faz crescer.
E viva o vento, o sol e o tempo!