quarta-feira, 1 de março de 2023

A construção do ser


 “As pessoas mais bonitas que conhecemos são aquelas que conheceram o sofrimento, conheceram a derrota, conheceram o esforço, conheceram a perda e encontraram seu caminho para fora das profundezas. Essas pessoas têm uma apreciação, uma sensibilidade e uma compreensão da vida que as enche de compaixão, gentileza e uma profunda preocupação amorosa. Pessoas bonitas não acontecem por acaso…”

(Elisabeth Kubler-Ross)


Ando pensando muito no que nos constrói como pessoas. Cada um tem sua própria matéria-prima para se construir. O alicerce dessa obra nada mais é do que a história de cada um. 

Mas como explica, dois irmãos, por exemplo, que nasceram do mesmo pai/mãe, tiveram a mesma educação falha, a mesma infância sofrida, num ambiente hostil e violento, quando adultos, um supera e segue por um caminho bom e o outro vai ser bandido? A escolha de cada um… explicaria? 

O que faz a gente ser bonito? Bom, compassivo, respeitoso, tolerante? O que desencadeia uma auto estima no pé, uma falta de confiança em si próprio? Como podemos reverter uma personalidade descrente da vida, em uma superação com mudanças de valores, crenças, auto confiança, praticamente uma reforma de quem somos? É possível?

O querer né?

Hummmm… o querer.

O querer é fundamental numa reforma íntima. 

Possível é… mas temos que viver querendo. Di-a-ri-a-men-te. Lutar contra nossas más tendências. Recalcular rotas. Rever valores. Ver a quantas anda nossa fé, na vida e na gente mesmo… nas pessoas. Olhar de frente, olhar dentro, sem medo de ver coisas feias em nós mesmos. Porque sim, somos feios também! 

Ser gente é uma construção que não termina nunca. Às vezes saber disso dá até um desânimo… mas não há o que fazer. Até no nosso último suspiro estaremos nos transformando.

Eu não sou mais quem eu fui no mês passado. Nunca voltarei a ser. Talvez eu seja pior ou melhor, mas nunca mais igual. O que define? A escolha… sempre a escolha. 

Bonito ou feio (tô falando de alma, viu gente?), a responsabilidade é 100% nossa.

sábado, 18 de fevereiro de 2023

Carnaval da reflexão


Eu tenho muita preguiça de carnaval. Já curti muito, mais jovem, mas hoje preguiça é o nome para a folia desmedida, preguiça de tanta gente que foge da realidade nesses dias onde tudo é permitido. Afe... que preguiça! Nada contra quem gosta, não me queiram mal por isso.... hahahaha.... na vida tem tempo pra tudo, né? Hoje eu só quero curtir o descanso, a sobriedade e a realidade que a vida me permite no momento. 

Meu blog é o meu canal de expressão. Abandonei ele por um bom tempo, faltou inspiração, faltou tempo, faltou leitor (eu sei que pouca gente lê...), enfim, vários fatores foram me desestimulando a escrever. Agora estou o vendo como um grande companheiro, que me ouve, que recebe, em silêncio, as minhas ideias e devaneios. Não estou me importando com o "ibope" dele mais, sabe? Hoje me importo pouco com o que as pessoas pensam ou deixam de pensar sobre mim, o que acredito ser um grande avanço... hahaha... é muito ruim ficar aprisionado nos olhares e opiniões alheias, né mesmo? Venho desapegando disso nos últimos tempos e, pode apostar, é muuuuuuuuito terapêutico.

Bom, mas voltando ao carnaval, estou aproveitando aqui para colocar a leitura em dia. Li hoje uma crônica do Luis Fernando Veríssimo e fiquei com vontade de compartilhar e comentar. Vai ela aí:

" Vivemos cercados pelas nossas alternativas, pelo que podíamos ter sido.
Ah, se apenas tivéssemos acertado aquele número (unzinho e eu ganhava a sena acumulada), topado aquele emprego, completado aquele curso, chegado antes, chegado depois, dito sim, dito não, ido para Londrina, casado com a Doralice, feito aquele teste…
Agora mesmo neste bar imaginário em que estou bebendo para esquecer o que não fiz – aliás, o nome do bar é Imaginário – sentou um cara do meu lado direito e se apresentou:
- Eu sou você, se tivesse feito aquele teste no Botafogo
E ele tem mesmo a minha idade e a minha cara. E o mesmo desconsolo.
- Por quê? Sua vida não foi melhor do que a minha?
- Durante um certo tempo, foi. Cheguei a titular. Cheguei a seleção. Fiz um grande contrato. Levava uma grande vida. Até que um dia..
- Eu sei, eu sei… disse alguém sentado ao lado dele.
Olhamos para o intrometido… Tinha a nossa idade e a nossa cara e não parecia mais feliz do que nós. Ele continuou:
- Você hesitou entre sair e não sair do gol. Não saiu, levou o único gol do jogo, caiu em desgraça, largou o futebol e foi ser um medíocre propagandista.
- Como é que você sabe?
- Eu sou você, se tivesse saído do gol. Não só peguei a bola como me mandei para o ataque com tanta perfeição que fizemos o gol da vitória. Fui considerado o herói do jogo. No jogo seguinte, hesitei entre me atirar nos pés de um atacante e não me atirar. Como era um herói, me tirei… Levei um chute na cabeça. Não pude ser mais nada. Nem propagandista. Ganho uma miséria do INSS e só faço isto: bebo e me queixo da vida. Se não tivesse ido nos pés do atacante…

Ele chutaria para fora. Quem falou foi o outro sósia nosso, ao lado dele, que em seguida se apresentou.

- Eu sou você se não tivesse ido naquela bola. Não faria diferença. Não seria gol. Minha carreira continuou. Fiquei cada vez mais famoso, e agora com fama de sortudo também. Fui vendido para o futebol europeu, por uma fábula. O primeiro goleiro brasileiro a ir jogar na Europa. Embarquei com festa no Rio…
- E o que aconteceu? perguntamos os três em uníssono.
- Lembra aquele avião da VARIG que caiu na chegada em Paris?
- Você…
- Morri com 28 anos.
- Bem que tínhamos notado sua palidez.
- Pensando bem, foi melhor não fazer aquele teste no Botafogo…
- E ter levado o chute na cabeça…
- Foi melhor, continuou, ter ido fazer o concurso para o serviço público naquele dia. Ah, se eu tivesse passado…
- Você deve estar brincando.
Disse alguém sentado a minha esquerda. Tinha a minha cara, mas parecia mais velho e desanimado.
- Quem é você?
- Eu sou você, se tivesse entrado para o serviço público.
Vi que todas as banquetas do bar à esquerda dele estavam ocupadas por versões de mim no serviço público, uma mais desiludida do que a outra. As consequências de anos de decisões erradas, alianças fracassadas, pequenas traições, promoções negadas e frustração. Olhei em volta. Eu lotava o bar. Todas as mesas estavam ocupadas por minhas alternativas e nenhuma parecia estar contente. Comentei com o barman que, no fim, quem estava com o melhor aspecto, ali, era eu mesmo. O barman fez que sim com a cabeça, tristemente. Só então notei que ele também tinha a minha cara, só com mais rugas.
- Quem é você? - perguntei.
- Eu sou você, se tivesse casado com a Doralice.
- E..?
Ele não respondeu. Só fez um sinal, com o dedão virado para baixo."


Muito boa, né? Dei risada, mas me fez pensar bastante também. 
É isso... nunca vamos saber como teria sido a vida, se tivéssemos seguido por determinado caminho. Tanta coisa pode dar certo, maaaaaas... tanta coisa pode dar errado também, né? E é só lá na frente que vamos entender melhor tudo o que acontece hoje. Lá na frente entendemos porque recebemos alguns "nãos", porque perdemos aquele emprego, aquele amor, aquela hora. 

Nunca me sai da cabeça que nada, absolutamente NADA, acontece por acaso. A cabeça sabe disso, o coração, de teimoso, às vezes demora para entender. A razão me sopra isso a todo momento. Ei de, um dia, dobrar esse coração... hahahaha...

Mas é isso, blog de volta, sigo escrevendo sempre que o coração pedir. Estou fazendo as pazes com minha livre expressão novamente. É um acalento tê-la de volta. 

Bom carnaval pra quem é de folia, bom descanso pra quem é do sossego, e boas reflexões, para quem é do pensar. Tá tudo certo, do jeito que for! :)

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

O ponto final

 Usualmente, na linguagem escrita, utilizamos o ponto final para encerrar frases. E encerramos mesmo, está vendo? De forma figurativa, às vezes, usamos o ponto final para encerrar situações conflituosas, relacionamentos, discussões... e utilizamos a pontuação da organização de um texto para colocar fim a algo que nos incomoda. E o coitado do ponto final, que era apenas uma simples pontuação, se torna vilão de uma história, "oooooou", quem sabe, salvador da pátria. 

Será que é correto utilizar ponto final para terminar uma relação, quando ainda existe amor? Não poderia ser reticências? Ou ainda, uma interrogação carregada de esperanças? Ponto final é muito cruel, pois de nada sabemos sobre o futuro... quem dera tivéssemos a tão desejada bola de cristal do mundo místico, pra saber o que os dias que virão nos reservam, não é? Devia ser proibido utilizar ponto final de forma figurativa, quando não temos certeza. 

Sabe porquê? Porque o ponto final nos arrasa por dentro. O ponto final mais dolorido, no fim de uma relação, é quando alguém nos abandona no momento em que mais precisamos de apoio, colo, compreensão, atenção... ajuda. 

O ponto final destrói sonhos, perspectivas.

Ponto final afasta pessoas, finaliza algo que poderia ser tão bonito, se houvesse um pouco mais de tolerância, esperança, esforço, vontade... ou mesmo, só esperar que a vida decida por si.

Algumas pessoas tem tanta pressa em finalizar coisas vivas, já perceberam? Por medo, por covardia, por boicote, até mesmo por não acreditarem em destino, em encontros agendados antes mesmo de nascermos... como é triste um ponto final, quando o amor está vivo, pulsante, querendo taaaaanto ser vivido.

Posso dar um conselho, a quem possa servir? Preste atenção quando quiser utilizar, de forma figurativa, o ponto final, caso não tenha certeza ABSOLUTA do que vai no seu coração. Do contrário você pode estar perdendo pessoas importantes e tantas oportunidades de viver aquilo que sempre quis... só porque pontuou errado.

Eu sou amiga das reticências... sei que a vida pode nos surpreender (e surpreeende!) a qualquer momento... e aguardo sempre por dias felizes, onde ponto final nenhum terá o poder de matar meus sonhos.