terça-feira, 15 de outubro de 2019

O baú de memórias do centro da cidade


O centro de Pedralva, cidadezinha fofa do sul de Minas onde eu nasci e vivo atualmente, é um baú vivo de memórias, cada cantinho que a gente olha tem uma lembrança, seja de infância, de adolescência, de tempos felizes e tristes que passaram, no jardim, no escadão da igreja (famoso!), no Clube Recreativo, no Casão, na Cite, na rua de pedras onde cada paralelepípedo guarda nossa história, nossa juventude e dias que foram embora mas que nunca nos deixarão totalmente. São muitos lugares que revivam o que passou mas nenhum cantinho traz tão boas recordações pra mim como o cômodo que fica embaixo do casarão lindo da Dona Zuza, que já abrigou por muitos anos (anos áureos da cultura pedralvense!) o Bar dos 2 (das antigas) e hoje é a sede do charmoso Le Pettit, Empório, Café, Turismo e Cultura, como já anuncia a placa lindinha na porta. 

Tenho pra mim que esse cômodo da Dona Zuza só pode ser encantado, sempre traz vitalidade e amor pro centro de Pedralva. Trouxe Vivi e Brunebas pra nós, que nos deram de presente esse cantinho tão fofo, aconchegante, charmoso, cheiroso e delicioso de estar, e ainda ganhamos no pacote os dois, pessoas tão queridas e cheias de vivências legais para agregar coisas boas e positivas pra nossa "cidadica", tão pequena de tamanho e tão grande de sentimentos nobres.

São tempos diferentes agora, fico olhando pro Le Pettit e penso que ele é o Bar dos 2 adulto, atingiu a maioridade o nosso "boteco" tão amado! Que história linda! Lembro da Vivi pequenininha no bar dos 2, cresceu ali rodeando os pais que a gente ama tanto, Juninho e Glêda, os tios, primos e nós, clientes que não saíamos de lá. Entre uma fase e outra o cômodo foi consultório dentário e há um ano a Vivian e o Bruno trouxeram de volta pra gente a mágica do lugar. Não é lindo?

O Bar dos 2 foi o grande responsável pela minha formação cultural e musical, foi lá que a maioria das amizades da vida inteira nasceram, foi lá que aconteceram as cantorias sem fim, com o violão rodando de mão em mão pelo fim de semana inteiro... rodas de viola intermináveis. Quantos talentos natos desabrocharam ali! Nos anos 80 e 90 o Bar dos 2, naquele local, foi de muitos donos (Edu, Eugênio, Nando Faria, Dilma, Luiza... quem mais?), mas tudo gente com o mesmo gosto musical e apreço por qualidade sonora, então o cliente quase nem percebia que o bar estava sob nova direção. Nossa, que tempo bom! Me emociona lembrar dessa época!

E emoção do mesmo tamanho eu senti nesse sábado que passou, quando o Le Pettit estreou com som ao vivo, de qualidade INQUESTIONÁVEL, com o Fabrício querido e sua música tocada e cantada pela alma linda que ele tem, interpretando lindamente Toninho Horta, Dori Caimmy e Guinga. Que presente que foi pra gente! Ao redor os amigos da mesma época do Bar dos 2, sentados em cima dos mesmos paralelepípedos, no mesmo cenário que abrigou tanta coisa boa que a gente viveu. Louco pensar que dividimos a mesma experiência  no tempo do bar dos 2 e prosseguimos aqui, juntos, no Le Pettit, tantos anos depois, com o mesmo amor, amizade e vontade de interagir, rir, cantar!  Mesmo sem ninguém falar nada, foi possível sentir a emoção em cada um por estarmos ali, juntos, depois de tanta vida! É como se o tempo não tivesse  passado. Aaaaai que nostalgia gostosa! 

Eu só posso desejar vida longa ao Le Pettit e agradecer à Vivi e ao Bruno pela tamanha sensibilidade em perceberem a carência que Pedralva tem de eventos como esse que aconteceu sábado.  Vocês estão contribuindo para que nosso baú vivo de memórias continue sendo abastecido com histórias lindas, boa música, amizade, amor e tudo de bonito que vale à pena a gente guardar e levar dentro do coração pela vida afora.

E viva o nosso baú de memórias, que está ficando a cada dia mais vivo, porque o que é bom vive pra sempre dentro da gente!
 Viva! 





segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Histórias de amor da vida real


Esse fim de semana estive imersa em família. O aniversário de 80 anos de um tio (Tio Chiquinho fofo) reuniu em Limeira, interior de SP, grande parte da Carneirada: a alegre e sempre efervescente família da minha mãe. Os "Carneiros" gostam de abraçar, beijar, rir alto, falar alto (bééééééé!), beber bastante (alguns não - bem poucos - vamos ser coerentes! rsrs...), e em comum a gente tem essa egrégora linda que nos alimenta com amor, sempre despretensioso e incondicional, que nos faz ser fortes e fofos, como os animais que denominaram nossa linhagem. 

Escutei e vi tanta história de amor esse fim de semana que não tinha como hoje não sentar para devanear. Desperdício não falar sobre. A primeira é a história linda da Tia Léa, que há tempos tenho vontade de contar. Na verdade a história dela dava era um lindo romance, com umas 250 páginas, daqueles que fazem a gente chorar de emoção. Infelizmente hoje eu só vou de resumo.  

A tia conheceu seu grande amor na adolescência: o Chiquinho Faria. Um amor infantil mas totalmente recíproco, que teve um fim por pura bobagem, decorrente de uma falha de comunicação e um mal-entendido. Ao se fazer de difícil, coisa que na época as mocinhas faziam muitíssimo, tia Léa perdeu o "bonde". O Chiquinho, chateado com ela, arrumou outra rapidinho. Isso acontece muito... rsrsrs... enfim, o novo namoro do amor da Tia deu certo, pegou velocidade, ganhou seriedade e se transformou em casamento. A moça era muito boa, pessoa de família de gente muito querida, e a Tia Léa, mesmo sofrendo, aceitou de coração o relacionamento, pois sabia que seu amado estava em boas mãos. O amor tem dessas coisas, né? Só que ela nunca mais ocupou seu coração, deixou o amor por ele adormecer, silenciar, ficar ali escondidinho, bem quietinho, imperceptível.... e seguiu adiante.

O Chiquinho foi feliz no seu casamento, teve quatro lindos filhos, mas infelizmente sua esposa adoeceu e faleceu, precocemente. Foi uma tristeza na cidade. Tia Léa também ficou triste em ver o sofrimento de seu ex-namorado, mas o amor (aquele adormecido e silenciado por aaaaaanos) abriu os olhos e disse bem baixinho nos ouvidos dela: "Ai... meu viuvinho!!!". A esperança fez morada em seus dias a partir dali, mas ela, sempre discreta, continuou o amando em silêncio. Passado um ano do falecimento da esposa do Chiquinho, uma irmã dele falou baixinho um dia no ouvido da Tia Léa: "E aí cunhadinha?", o coração deu até uma galopada e ela só pôde sorrir e pensar que algo estava acontecendo para que aquele sinal chegasse até ela! 

Depois disso vieram os cortejos e enfim... a reconciliação! Uhuhuhuuuuuuul!! Que alegria pra esse coração que esperou tanto! E eles não perderam tempo, logo se casaram. A tia recebeu com todo o amor do mundo os filhos do primeiro casamento para criá-los como mãe e ainda teve outros três capetinhas (hahahaha...), que são a alegria e divertimento dela. Os meninos (hoje homens só de tamanho e idade!) atormentam tanto a tia Léa que a gente fica até com dó, pegam-na no colo, jogam na piscina, beijam na boca... é muito engraçado, mas é amor genuíno, liiiiiiiiiindo de ver! Tio Chiquinho infelizmente se separou temporariamente da tia outra vez, faleceu anos atrás, mas deixou pra ela uma família que a ama imensamente. Fala a verdade se essa história não merece um livro cheio de detalhes? Isso é amor! E amor é superação.

Nesse encontro de família eu vi também tanta gente com saudade, que perdeu seus entes queridos, mas que estão prosseguindo a vida, se apoiando uns nos outros. Os filhos do tio Garoto, por exemplo, tão cuidadosos com o pai, que também perdeu seu grande amor. Lindo de ver! Isso é amor! E amor é superação.

Eu vi a minha prima Natália (que não via há mais de 10 anos), tão linda e guerreira, positiva, corajosa, com seu filho Inácio (motivo de suspiros constantes na festa, de tamanha doçura e encantamento que o menino tem), que nasceu prematuro e hoje estão lutando bravamente para superar as sequelas deixadas pelo parto fora de hora. Natália é uma lição de vida pra gente. Não reclama, só agradece e prossegue. Isso é amor! E amor é superação. 

O próprio tio Chiquinho, o aniversariante, com sua linda esposa Gabriela, que sofrem já pelos filhos que estão batendo asas e vão viver em outro país... tão longe! E mesmo sofrendo, incentivam, encorajam, deixam ir. Isso é amor! E amor é superação.

E a Patrícia, filha do Tio Chiquinho, que organizou a festa com tanta garra, demonstrando a alegria de nos receber em cada detalhe! Gente!! Os docinhos tinham carinha de carneiro! hahaha... olha que carinho mais gostoso! Eu de fogo não tinha coragem de comê-los, de tão lindinhos que eram... aí a Ana Luiza, sempre divertida e avacalhada, veio e espatifou com meu doce numa "dedada" só! Fiquei triste pelo meu carneirinho. Isso é amor! E amor é superação... hahahaha (sacanagem!).

Se eu for contar tudo que observei vou ter que escrever um livro sobre esse encontro lindo de amor. Cada um tem a sua história, a sua dor, a sua saudade. Estamos no mesmo barco porque a vida é assim pra todo mundo, imperfeita, mas linda do jeito que tem que ser. Como é bom ter uma família que nos ama, nos respeita e convive bem com a gente, mesmo com tantos defeitinhos (ou defeitões)!

Família é isso, gente!
Família é amor.
E amor é superação.

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Sonho X Realidade

Sabe? Pensando aqui, me considero afortunada, eu já realizei muitos sonhos na vida! Muitos! Hoje mesmo, estou vivendo um sonho, muito desejado, por muito tempo, que é viver num lugar tranquilo, rodeado por natureza, sem muito barulho, perto da família e dos amigos, perto das montanhas (Aaaai... isso é o máximo!), conseguindo manter a mim e as minhas filhas financeiramente, tendo independência e autonomia de vida. Esse sonho nasceu do cansaço interminável de uma vida agitada, sem tempo pra nada, tendo que matar quatrocentos leões por dia para sobreviver, engolindo sapos incessantes para atender demandas urgentes de chefes ansiosos, exigentes e egocêntricos. Hoje, quando eu sento para tomar meu café da manhã sem pressa, e tenho a vista que eu tenho, escutando os passarinhos cantar, me deliciando com a Rádio Inconfidência de BH tocando no celular e não tendo hora pra chegar no trabalho eu suspiro fuuuuuuuuuuuuuuundo, com muita delícia, e faço uma oração em agradecimento à essa dádiva que é viver o sonho. 
O sonho fez a vida ficar perfeita? 
Não, não fez. 
Segura aí que logo destrincho o pensamento.

Quando eu era estudante de jornalismo, nos anos 90, eu chegava da faculdade à noite e me sentava na porta de casa para olhar pro céu. Ficava observando a luz dos aviões que passavam em rota acima da minha caixola e pensava comigo: "Eu ainda vou viajar muito de avião, vou ter uma vida agitada, vou viver em ponte aérea e conhecer o Brasil inteiro a trabalho". A calma excessiva do interior, nessa época, me dava nos nervos e eu queria agito, trabalho, movimento. De fato eu tive essa vida que desejei, viajei o Brasil quase que inteiro a trabalho, conheci culturas, pessoas, lugares incríveis e enjoei de tanto andar de avião. Esse sonho fez a vida ficar perfeita?... já já! 

Eu sonhei em ter um grande amor na minha vida e tive.
Eu  sonhei em ser mãe e fui.
Eu sonhei ser jornalista e atuei em praticamente todas as vertentes do jornalismo.
Sonhei em ser fotógrafa, consegui fazer cursos, ter ótimas câmeras fotográficas e amei cada segundo dedicado à esse job/hobby.
Sonhei em conhecer outro país e vivi meio ano no Canadá.
Sonhei em ser escritora, cá estou eu. 
Com tantos sonhos realizados, a vida foi ou é perfeita?

Tchan tchanãnã.... NÃO! 
O que sonhamos por dentro e o que vivemos por fora são coisas muito distintas. Quer ver?
- A vida agitada, com voos tão frequentes e rotina insana de trabalho quase me mataram e no fim eu já não podia nem ver avião mais na minha frente... hahaha... 
- O grande amor... bom! Melhor não comentar.
- Ser mãe foi e é maravilhoso, mas não passa nem perto de ser um mar de rosas.
- O jornalismo factual e o dia-a-dia insano de uma redação só serviu para me trazer grandes amigos, experiência e um pouco de esperteza (né Mara Santos? Hahaha...), no mais... NÃO É PRA MIM!
- Ser fotógrafa foi lindo mas a vida não deixou que o hobby fosse profissão por mais tempo porque as câmeras pesadas não se adequaram às mãozinhas tortinhas.
- Viver no Canadá foi inesquecível mas eu comi o pão que o diabo amassou para aprender inglês, que voltou capenga, e quase morri de saudades do Brasil e da minha gente!
- Ser escritora é maravilhoso, me realiza, me completa, mas é uma profissão super trabalhosa e que carrega uma responsabilidade gigante, sem contar que não é tão fácil assim conseguir clientes, eu até que tenho tido sorte. 
- E, por último: a vida nas montanhas! É ótimo viver aqui, mas tem dias que quero sair correndo, mudar, viver em outro lugar um pouco mais agitado (vai entender... rsrsrs...). Tem dias que calma demais parece que me distrai em vez de me concentrar.

Enfim... tô fazendo essa reflexão pra dizer que o sonho tem problemas. 

Ensinaram a gente a sonhar, mas não ensinaram que o sonho vem, mas vem para ser vivido na realidade e a realidade é do jeito que é: imperfeita. Por causa dessas imperfeições às vezes a gente vive o sonho sem nos darmos conta de que estamos vivendo o que desejamos tanto em algum momento da nossa vida. E o sonho passa despercebido. O sonho acaba.

O sonho tem problemas, mas talvez a realização completa dele seja justamente a capacidade de conseguirmos resolvê-los. A maioria (me incluo nesse rol) não resolve o que tem que resolver, pula de sonho em sonho e, assim, a realização nunca chega.

A vida nos dá tudo que queremos, quando temos VONTADE, quando desejamos com o CORAÇÃO e nos esforçamos para ter. Isso é fato! Mas, distraídos que somos, deixamos o sonho escapar, sorrateiro, no meio de tanta realidade. Aí a vida vem e ensina que tudo bem sonhar muitas coisas e tudo bem também mudar de sonho, mas que não está tudo bem deixar escapá-lo sem antes esgotar todos os recursos para vivermos aquilo que a gente quis tanto... problemas sempre vão existir, sonhos realizados não, eles se esgotam e nos abandonam, se não sabemos aproveitá-los da forma correta. 

O sonho realizado precisa de valorização para continuar existindo... se não, vira só mais um sonho que passou e que foi engolido pela realidade.



terça-feira, 3 de setembro de 2019

Sinais


Outro dia estava no aeroporto em São Paulo, esperando pelo voo que aconteceria dali a uma hora, e resolvi entrar numa pequena livraria para sapear. Os olhos toparam, de supetão, num livro cujo título era: "Propósito: A coragem de ser quem somos", na hora escutei a voz interna: "compre esse livro", mas eu não dei muita bola, pensei: 'deve ser mais um livro da moda!' e continuei o rolê dos olhos, já convencida de que queria comprar um livro pra ler na viagem. Rodei, rodei, rodei, mas os olhos toda hora voltavam para o tal "Propósito". "Cacete, vou folhear, vamos ver qual que é", e o olhar bateu direto na frase: "Os muros que você constrói ao seu redor para se proteger são os mesmos que o mantém isolado no mundo". Caraca! Comprei. Devorei a metade do livro na ida, a outra metade na volta e agora estou lendo de novo, rabiscando, anotando, bem devagar, para absorver melhor o conteúdo. Fiquei pensando depois o quanto são valiosas essas vozes interiores e como deixamos de aproveitá-las, na maioria das vezes, por pensarmos ser uma viagem da cabeça ou coisas do tipo. 

Ontem, conversando com uma amiga que passa por uma crise existencial (desse assunto entendo bem... hahaha), discursei, discursei, discursei e depois falei sobre o livro que estava relendo,  amando cada palavra, e o quanto a obra estava ampliando meu olhar sobre um caminhão de coisas. Quando disse o nome do livro ela ficou chocada: "Ana, só essa semana esbarrei com essa palavra três vezes, fui convidada para uma palestra sobre o tema, ganhei um livro com esse nome e agora você me fala do nome desse outro livro!". Ela ignorou os dois primeiros "chamados", não foi na palestra e não deu muita bola para o livro que ganhou de presente, mas entendeu o terceiro sinal. Nós duas divagamos longamente sobre os sinais que a vida nos manda e que teimamos tanto em ignorar. Eu, depois, fiquei pensando que sincronicidade louca essa e que bacana quando conseguimos percebê-la nos nossos dias!

A vida nos manda sinais. O universo, quando quer nos mandar recados, nos manda pessoas,  palestras, filmes, mensagens encaminhadas, áudios, frases escritas em muros, cartazes pregados em postes, livros! E o que fazemos? Fazemos de "desentendidos", sempre entorpecidos pela rotina diária, pela falta de fé no desconhecido, pela surdez emocional que nos impede de ouvir a nossa sábia voz interior. Quando o sinal é ouvido e entendido é isso o que acontece: um livro lotado de coisas que você precisa ouvir, uma "chapuletada" atrás da outra, mas totalmente para o bem! Escutar o chamado é percorrer o caminho mais calmo de volta pra casa, é encontrar sem querer uma pessoa que você está louca para encontrar, é encontrar a solução para aquele problemão que está te tirando o sono, é chegar no "Le Pettit" e ter a deliciosa torta de nutella com doce de leite que você ama... (Owwnnnnn!). Quando você precisa ouvir alguma coisa importante a vida vai te mandar aquele amigo querido, que vai enfiar o dedo na sua ferida até sangrar, mas vai te curar! Amigos de verdade são os segundos melhores portadores de recados do universo, são nossos "anjos da guarda vivos" e, por nos conhecerem tão bem, são sempre eficazes no quesito "acorda pra vida"! Hahaha...

Em primeiríssimo lugar a voz que mora dentro da gente é a opção que melhor pode nos guiar, mas é a mais difícil de ser ouvida, porque as interferências são monstruosas! Ela pode ser confundida com ego, com ideias pré concebidas, com preconceitos, com obsessores... vish! Tanta coisa que precisa de um post novo só para discorrer sobre as "interferências do eu"! 

A voz interna é a famosa intuição. Ela surge sutilmente, é sóbria, calma, certeira. 
Essa voz é a sincronicidade querendo agir na vida da gente. 
Há de se ter coragem para ouví-la e mais coragem ainda para seguir a recomendação! 
Ouça.
Como disse Guimarães Rosa: "O que a vida quer da gente é coragem". 

quarta-feira, 31 de julho de 2019

O suicídio, a expressão e a cura


Quem acompanha o meu blog já deve saber o quanto eu gosto de "viajar" nas ideias que povoam a minha "caixola"... não sei se eu sou sempre compreendida, mas se eu ficar pensando muito nisso, nunca mais escrevo. Então se algo que eu escrever soar estranho pra você, pense que é um devaneio, uma doidice ou mesmo alguém que escreve porque ama poder se expressar.  Às vezes eu escrevo pra mim mesma e outras vezes não tem nada a ver comigo, é só mesmo uma forma de expressão, um alerta ou quem sabe uma missão de descortinar mentes presas em quartinhos escuros? Quem sabe, né? 

Escrever pra mim, na maioria das vezes, é uma libertação. Vivi presa dentro de mim por muito tempo. Vou contar uma historinha triste da vida real. Quando a minha mãe faleceu eu tinha 11 anos. Logo que voltamos do sepultamento, lembro da cena como se fosse hoje, eu sentei na cama da minha mãe, ainda com o cheirinho dela, já sentindo uma falta danada da pessoa mais importante da vida e disparei a chorar mais um bom tanto. Uma tia passou pela porta do quarto, me viu ali, se aproximou e disse: "Chega de chorar! E outra, não fique chorando na frente do seu pai daqui pra frente, ele já está sofrendo muito e é melhor que ele não veja o sofrimento de vocês", e trancou assim a porta da cela, aprisionando a livre expressão que habitava em mim. Eu sei que ela não fez por mal, coitada! Queria ajudar o irmão viúvo, com cinco filhos para criar sozinho. Mas vem cá, pedir para uma criança de 11 anos não mostrar os sentimentos de perda de uma mãe foi uma atitude, no mínimo, infeliz, não é não? Obediente que eu era, tentei seguir à risca a recomendação e a falta de expressão habitou meu coração por uma boa parte da vida, o que gerou muita rebeldia, muita baixa auto-estima e um irritante sentimento de inadequação que me limitava quando queria dizer algo importante a alguém ou simplesmente desabafar. Sou um pouco assim até hoje. Acho que vou incomodar o outro com a minha dor. Se eu te contar que comecei a me libertar, a falar o que "vem na telha", com o blog, você acredita? E até hoje eu sigo tentando essa expressão livre, não consegui ainda totalmente, mas sigo firme e forte nas tentativas! 

Hoje, adulta, se passasse pelo quarto e visse aquela cena triste,  eu diria para aquela menina: "Chore mesmo querida! Deixe o mundo saber da sua dor! Fale sobre essa dor, se exponha, chore na frente do seu pai, você não precisa sofrer sozinha, todos podem sofrer juntos! Chore para que você se cure, se liberte e possa ter apenas uma saudade sublime da sua mãe, sem precisar carregar essa dor dilacerante pela vida afora", a abraçaria, choraria com ela até que visse um sorrisinho de volta. Hoje eu te acolho, querida menina, te acolho escrevendo esse texto para dizer aos outros o quanto a expressão da dor pode nos curar, nos amadurecer e nos libertar de sermos prisioneiros dentro da gente mesmo. 

A comunidade pedralvense está se mobilizando para combater o suicídio, que por aqui tem índices alarmantes. Acho bacana a iniciativa, não pude ir na reunião na semana passada que reuniu as lideranças religiosas para discutirem o tema, mas quero me juntar às pessoas que estão abraçando a causa. Só penso que não é passeata, palestra, cartaz, etc... que vai resolver a dor do outro. Pode até amenizar, mas o outro pode achar uma "balela" isso tudo, por melhores que sejam as intenções da comunidade. O outro está doente. O outro está sozinho. Pouca gente acredita nele. Pouca gente acha que ele será capaz de se matar. Dói muito dentro do outro, a dor é tão grande que o suicídio é a única saída que ele consegue ver. 

Eu pensei em me matar algum tempo depois que minha mãe se foi. E outras vezes também. Quem nunca pensou em tirar a própria vida que atire a primeira pedra, né? A minha sorte é que a coragem sempre ficou bem distante do desejo, mas infelizmente tem pessoas por aí com a coragem colada ao desejo, é quando uma vida se perde em milésimos de segundos, tristemente. Vida que poderia talvez ter sido salva por outra pessoa, com uma atenção, um carinho, uma conversa, um colo, um ouvido. Penso o quanto somos negligentes com a dor dos outros, às vezes a única coisa que a pessoa precisa é ser ouvida, é ter sua dor levada a sério.

Eu tive a sorte também de pertencer à uma religião que acredita que a vida não acaba: o espiritismo. Sem desmerecer as outras, que são todas nobres e com propósitos belíssimos, o espiritismo salvou a minha vida, inúmeras vezes, e continua me salvando todos os dias, de todas as mazelas. Eu tenho esperança na minha religião, eu sei que Deus me dará sempre chance de corrigir meus erros e de recomeçar. A pessoa que está à beira de cometer o suicídio talvez não conheça Deus direito, pode até ter uma religião, mas quem conhece aquele Deus amigo, confidente, companheirão para todas as horas, se sente acolhido de alguma forma e sabe que tudo vai passar, mesmo que demore. 

Pra você, que passa por alguma dor absurda e que pensa em tirar a sua vida, eu só posso te dizer: FALE!!! CHORE!!! PERMITA QUE A DOR SEJA DILUÍDA! Não se cale, expresse o que sente! Se não tiver ninguém, venha falar comigo! Vá falar com o padre, com o pastor, com um dirigente de uma casa espírita, sua mãe, seu amigo. Falar alivia, falar cura! Encontre Deus, dentro ou fora de alguma religião, encontre você mesmo aí no meio de toda dor. No meio de tanta dor! 

E olha... a dor vai passar. Acredite em mim! 


quarta-feira, 24 de julho de 2019

Dor se supera com amor e com janta!


Nos conhecemos desde a infância mas a amizade mesmo começou a surgir na adolescência. Com cada uma eu vivi uma história diferente, mas todas grandiosas. Essas meninas lindas são o que a gente pode chamar de "antidepressivos dos mais eficazes que tem no mercado". Tanto que o nosso grupo no whatsApp se chama: "Janta das risadas".  Há pelo menos uns dez anos  nos reunimos, de tempos em tempos, para comer, rir e falar, mais do que a boca, diga-se de passagem. Já viajamos juntas também por duas vezes e foram as viagens mais incríveis da vida, terapia do riso total. Ontem teve janta, dessa vez o chorar também esteve presente, não literalmente, mas o compartilhar a dor, que cada uma estava carregando de maneiras diferentes.

Não está sendo um ano fácil pra quase ninguém, muitas perdas! Mais um motivo para a janta ser acionada, todas precisando de uma dose extra de alegria. Ai gente! Não tem coisa melhor nessa vida do que alguém que te conhece, desde sempre, te abraçar, te olhar e você não ter nem que dizer uma única palavra, não é não? Que preciosidade esse grupo! Quem te conhece sabe da sua dor, quem te conhece sabe da necessidade do ouvido e do abraço, ninguém precisa acionar ninguém, a gente só sabe... a gente só sente! Fico até emocionada em escrever isso, porque é a coisa mais linda esse sentir de forma tão genuína! 

Amigos assim tem o poder de nos curar. Chegamos pra janta com a orelhinha baixa, "xuéééés", e fomos embora numa algazarra digna de acordar a vizinhança! Ai que delícia! Que bênção! 

Para vocês minhas lindas eu deixo o meu amor e um poema, que diz tudo sobre nós! 

Amigos
Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
Não percebem o amor que lhes devoto
e a absoluta necessidade que tenho deles.
A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor,
eis que 
permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.
E eu poderia suportar, embora não sem dor,
que 
tivessem morrido todos os meus amores,
mas 
enlouqueceria se morressem todos os meus amigos !
Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências ... 
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem.Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. 
Mas, porque não os procuro com assiduidade,
não posso 
lhes dizer o quanto gosto deles.
Eles não iriam acreditar.
 

Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabemque estão incluídos na sagrada relação de meus amigos. 
Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro,
embora não declare e não os procure.
 

E às vezes, quando os procuro,
noto que eles não 
tem noção de como me são necessários,
de como são 
indispensáveis ao meu equilíbrio vital,
porque eles 
fazem parte do mundo que eu,
tremulamente, construí,
e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado.Se todos eles morrerem, eu desabo!Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles.
E me envergonho, porque essa minha prece é,
em síntese, dirigida ao meu bem estar.
Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.
Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos,
cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim,
compartilhando daquele prazer ...
Se alguma coisa me consome e me envelhece
é que a roda 
furiosa da vida
não me permite ter sempre ao meu lado,
morando comigo, andando comigo,
falando comigo, vivendo 
comigo, todos os meus amigos, e, principalmente,
os que só 
desconfiam - ou talvez nunca vão saber -
que são meus amigos!
A gente não faz amigos, reconhece-os.
Vinicius de Moraes 

quinta-feira, 18 de julho de 2019

As asas do céu e os likes invisíveis


Às vezes, na minha insanidade, penso que Deus deve ser um artista plástico um pouco frustrado. Ele faz cada pintura linda no céu, principalmente no outono e inverno, e meia dúzia de gatos pingados pára para admirar, contemplar e refletir em cima dessa arte. Eu nunca achei que a função da nuvem é restrita ao que a ciência aponta, eu acho que a nuvem é a tinta óleo desse pintor fantástico que é o nosso Papai do Céu. Mas não fica assim não Deus, eu te entendo! No mundo existem poucos observadores, pensadores, leitores, críticos e admiradores de pintura no céu... viagens e devaneios à parte, Deus não pinta para ganhar "likes". Estou viajando. 

O céu de Deus tem vida própria, tem auto-estima elevadíssima, não precisa que ninguém olhe para ele. Somos nós que precisamos da poesia do céu! Sem poesia vamos vivendo mecanicamente, um passo atrás do outro e o olhar cada vez mais voltado para o chão. Quando o olhar não está no chão está no celular. Que tempo louco que estamos vivendo! O celular e a internet estão enlouquecendo a gente! Já parou pra pensar? Meu Deus, esse bichinho causa uma ansiedade tão grande que as empresas responsáveis pelas redes sociais lançaram recentemente a ferramenta de esconder os marcadores de likes. Eles sabem que estão enlouquecendo e matando pessoas. Eles sabem! 

Eu não estou apontando dedos, estou falando de mim também, que já me sinto viciada nesse trem (Gente do Céu! Como é que pode?). E olha que eu sou da geração nascida quando a internet não existia! Graças a Deus! Imagina essa galerinha que já nasce com o celular na mão? Que perigo! Não devem nem saber que Deus pinta lindamente no céu! "Céu? O que é céu?" ... no dia que me dou conta do meu vício tenho vontade de abandonar todas as redes sociais, mas estamos tão amarrados nesse universo que não consigo sair simplesmente porque a minha vida profissional também está emaranhada nesse meio. Coisa louca, né? Eu chego a desejar às vezes (muitos vão querer me matar!) que desse um "bug" irreversível na internet e que a gente voltasse ao tempo do correio elegante, do telegrama, das cartas, dos telefonemas e dos encontros... nós éramos obrigados a sair de casa antigamente se quiséssemos encontrar os amigos! Nossa, como era gostoso e saudável isso! 

Aí fico pensando, porquê essa dependência, né? Aí olho para o céu, vejo uma asa de anjo, vejo uma pena, cabelos encaracolados, cachos moldados pelo vento... e descubro tristemente o quanto as pessoas estão carentes, solitárias, atravessando desertos sem uma mão sequer para guiá-las. A internet dá-nos a falsa sensação de companhia, de entrosamento e pertencimento. Sensação enganosa, bem enganosa! Internet não tem cheiro, não tem calor, não respira, não sorri. Estamos sendo manipulados, engolidos. O efeito colateral? Mundo cada vez mais solitário e entristecido, sem entender que a felicidade genuína dispensa qualquer tipo de like. 

Já as asas do céu, a natureza, o ar livre, o abraço apertado, o olhar atencioso, o ouvido interessado e tudo que corresponde à vida real, permitem um voo terapêutico e digno de nos tirar da beira do abismo.

Desenhos de Deus, nos salvem!






terça-feira, 9 de julho de 2019

O universo felino de Dona Amália


(Imagem Ilustrativa - essa não é Dona Amália!)

Tenho poucas lembranças da minha mãe. Uma pena, mas essas poucas são tão valiosas que penso que auxiliaram (e muito!) na formação da minha personalidade, caráter e naquilo que "você é porque quis ser". Dona Cibele era uma mulher bondosa que tinha muita empatia e compaixão pelas pessoas solitárias. Ela visitava com frequência alguma amigas viúvas e cultivava essas  amizades com carinho e doçura. Sempre que podia levava eu e minhas irmãs para essas visitas também, certamente porque sentia em seu íntimo que tinha pouco tempo para nos ensinar a considerar e a se importar com o sofrimento alheio. No meu tempo de criança as pessoas ainda se visitavam, paravam para conversar, se olhavam mais nos olhos. Tempo que ficou tão para trás com a tecnologia que une por um lado, mas que, por outro, criou abismos, às vezes intransponíveis, entre as pessoas. 

Uma amiga que a mamãe visitava e que eu nunca me negava a ir era a Dona Amália, uma senhorinha fofa que vivia rodeada pelos seus gatos e mais ninguém. Eu achava a Dona Amália uma querida, ela nos recebia sempre com alegria, abraços, beijos e alguns docinhos. Ela amava a minha mãe! Dona Amália sempre nos recebia na pequena sala de sua casa e nunca passamos desse cômodo, o que para mim era uma tremenda de uma "sacanagem", porque eu morria de curiosidade para saber como era o restante da casa. Eu imaginava em minha mente ultra fértil e criativa (criança sabe como é, né?) um mundo fantástico, onde os gatos viravam gente no interior da casa, tipo "Gatotauros, parecidos com os Minotauros", aqueles corpos de homens com cabeça de touro que eu assistia no Sítio do Pica Pau Amarelo! rsrsrs... e eu viajava, desnecessariamente, pois nunca passei para o lado de dentro.

Dona Amália era um luxo com seus bichanos, era lindo de ver. Hoje eu sei o valor que é ter gatos como companheiros e ultimamente tenho brincado que serei a substituta da Dona Amália em Pedralva, porque aqui já temos três: o Pixe, o Xexéu e o Xuxú! Eles são a vida da nossa casa! Os gatinhos da Dona Amália deviam também ser a vida da casa dela. Depois que minha mãe morreu visitei Dona Amália algumas vezes, mas era tão difícil pra mim porque ela só chorava quando nos via, tadinha! Deve ter sido muito difícil perder uma amiga que se importava com ela. 

Anos depois, quando eu já não morava em Pedralva, soube da partida da Dona Amália. Não me lembro em quais circunstâncias ela faleceu, se foi encontrada sozinha com os gatos, mas me lembro que fiquei muito triste. Dona Amália é como vários personagens da minha infância que ficaram guardados num local muito especial da memória, um lugar encantado, misterioso e que eu desejei decifrar, como o Sô Wilson e o seu Armazém que parecia não ter fim,  o Jofre que saía de trás do balcão para me abraçar do lado de fora, toda vez que me via! Quanta gente querida! A Dona Chiquinha Magra, que também amava a mamãe e que a gente também visitava. Ai Dona Chiquinha... que mulher amorosa e especial! Ela também chorava toda vez que nos via depois da partida da mamãe! Lembro que na adolescência tive uma "antipatia temporária" por ela, tadinha, porque ela me encontrava e dizia: 

- Filha! Como você está bonita! Gooooooooooorda!

Hahaha... eu queria morrer! Mas é claro que a antipatia era passageira e no fundo eu sabia que ela achava mesmo as gordinhas bonitas, os antigos achavam! Porque a moda não continuou, né? Sacanagem! rsrsrs... Ela devia achar bonito também porque tinha a própria magreza estampada no apelido. Vai ver o sonho da Dona Chiquinha era ser gordinha! 

Muitas histórias! Que infância feliz eu tive nessa cidade, com gente tão simples e tão cheia de valor!
Queria ser mais parecida com minha mãe no "quesito compaixão", ter mais esse "feeling" de olhar para o próximo, de identificar sofredores e ajudar mais. Podemos fazer tanto pelos outros e fazemos tão pouco! A gente se acomoda dentro do próprio mundinho, né? A ponto de sequer olhar na janelinha! 

Que linda foi minha mãe! Ela exemplificou lindamente para nós o que é empatia, sentimento raro hoje em dia. Eu só posso ser grata por ela e por todos esses personagens do meu mundo encantado, escondido e empoeirado aqui dentro de mim. Um beijo mãezinha! Um beijo Dona Amália, Dona Chiquinha Magra, Sô Wilson, Jofre querido, Seu Chico Nery, A fofa da Dona Ana Osório, o gigante Padre Sebastião, Chinho meu eterno amigo, o bondoso Antonio Braga, a queridíssima Dona Mariinha Bustamante e tantas e tantas lindezas de Pedralva! Que saudade de vocês!

domingo, 7 de julho de 2019

O trabalho e a missão de cada um


O trabalho não pode ser "só" um trabalho. A vida mudou muito quando me toquei que ele não podia "só" representar um ganho financeiro, uma distração, um refúgio ou uma forma de sobrevivência. Independente de qual for a atividade, penso que temos que trabalhar de forma que nosso ofício modifique vidas, proporcione algo de bom para alguma pessoa, seja uma facilidade, uma alegria, um contentamento, uma realização ou qualquer coisa nesse sentido. Por mais simples que seja a atividade acredito que qualquer um pode adotar isso para a vida profissional, com um sorriso ou um bom atendimento, podemos melhorar consideravelmente o dia de alguém.

Hoje me emocionei profundamente pois tive a confirmação desse conceito que adotei já há alguns anos. Atualmente estou no processo de pesquisa para o desenvolvimento de uma biografia de uma senhora linda e querida, que aos 91 anos, transborda alegria e vitalidade: Dona Ida Avallone, paulista que vive em Cuiabá desde 1964. Estava eu colocando a vida em ordem, depois de passar muitos dias longe de casa, viajando a trabalho, e recebi uma mensagem da Dona Ida: 

"Bom dia minha querida! Já estou com saudade. Você está sendo muito especial na minha vida, por diversas razões. Antes o meu conceito sobre o passado era muito diferente. Quando eu era convidada a falar em público, e foram muitas vezes, iniciava minha fala dizendo: 'o que me faz viver longamente  e feliz é porque vivo o dia presente sem me importar com o passado, que não pode ser modificado. Os erros cometidos não serão jamais alterados e só servirão para nos alertar a não cometê-los novamente'. Puro engano. O passado é importantíssimo e está me fazendo muito bem vivê-lo hoje.  Ter tido esta oportunidade de me relacionar com você está sendo extraordinário nessa fase da minha vida. Obrigada Ana, por tudo e principalmente por seu carinho". 

Tive que largar tudo o que estava fazendo e chorar. Que mensagem linda e providencial. Coisas assim dão sentido à minha vida, ao meu trabalho e a tudo que acredito sobre viver e conviver. Nessa semana passada que estive com Dona Ida, em uma das nossas conversas (entrevistas) eu disse à ela que precisamos ressignificar o passado, aprender com tudo que falhamos e que podemos sim dar um novo significado e olhar com beleza e amor para tudo que passou, mesmo as feiuras que fazemos na vida com as pessoas e com a gente mesmo, podem ser resgatadas, pelo menos dentro da gente. Ela ficou me olhando longamente e silenciou. Na hora fiquei até preocupada em ter falado demais,  ter invadido um espaço talvez doloroso que ela pudesse ter dentro do coração ou sei lá, ela podia ter pensado: "quem essa guria, que tem pouco mais da metade da minha idade, pensa que é para me falar sobre o passado e o jeito que temos de encará-lo?", mas enfim... ela silenciou e depois de alguns minutos nós prosseguimos.

Ela entendeu e assimilou o que eu disse.
Que bonito isso!

A  proximidade com Dona Ida tem me feito muitíssimo bem também. Eu até brinquei que ela terá que me adotar como neta, pois eu já a tenho como avó de alma, de amor, de consideração. Ela é extremamente carinhosa e querida, e nem sabe o quanto está me "aconchegando". 

Não importa onde eu esteja, eu quero poder significar algo a mais.
Não importa como eu me sinta, eu posso fazer alguém se sentir bem.
Não importa o dinheiro que eu ganhe, se eu não puder levar um pouco de luz para outras vidas.

Porque quando nada mais importar, se uma única pessoa nessa vida se importar comigo, eu posso ter a certeza e a alegria de que tudo valeu à pena. 

sexta-feira, 28 de junho de 2019

A solidão nossa de cada dia


Terminei de ler hoje um livro que ganhei no natal, do Leandro Karnal: "O Dilema do porco espinho - como encarar a solidão". De cara: RECOMENDO. Super recomendo. Li bem devagar, porque é forte o trem, precisei absorver muita informação preciosa e comparar com minhas vivências nesse quesito. Eu sempre fui meio "sozinhona" na vida, mesmo nos tempos de "badalos" constantes, rodeada de gente, família, filhas. Com o livro algumas fichas caíram. É bom. Tem que ter coragem para ler e reconhecer os monstrinhos nossos escondidinhos aqui, mas é muito bom. Com o tempo aprendi a me dar bem com a solidão, gostar da minha companhia, ficar em paz sem ter que necessariamente estar acompanhada e, como está explicado no livro, quando a solidão é benéfica ela é chamada de solitude, coisa boa que, garanto, não dói. 

Lendo hoje a última parte me senti de mãos dadas com o Karnal, compartilhando das mesmas ideias, é spoiler viu, gente? Se você quiser ler esse livro abandona esse post agora! rsrsrs... ele escreveu: "Desconfie de quem se isola sempre. Desconfie ainda mais de quem nunca se isola. Confie pouco em quem vive conectado. Tenha compaixão pelas pessoas que estão tão desesperadas para evitar a solidão que vivem de festa em festa, de post em post, de bar em bar levando seu desespero para beber. Solidão bêbada não ilumina, apenas tropeça e amanhece mais triste na calçada...". Nossa! Pausa para respirar. Isso é muito real, né? Quanta gente sozinha por aí com medo de encarar a si mesmo. E quanta gente sofrendo! Sofrendo até mesmo sem saber, entorpecidos pelos prazeres fugazes que o mundo oferece. 

E Karnal arremata: "Viver exige pausas, pensar implica certo isolamento, ser feliz com quem você ama é, acima de tudo, ter a experiência da solidão antes e durante o amor. Você precisa de muitas pessoas. Viver é amar e amar implica outros seres. Lembre-se apenas de que você também precisa de você e esse mergulho em si é vital. Quando olhar alguém em uma mesa de restaurante sozinho e feliz, passeando em um parque sem ninguém e pleno, quando ligar para alguém e a pessoa em um sábado à noite disser com serenidade: "Eu estava aqui pensando e lendo tranquilo", não se esqueça de lhe dar os parabéns. Aquela pessoa já descobriu a faceta libertadora da solidão tornada amiga e está apta para voltar ao convívio dos outros porque já convive consigo. Se você não se suporta, quem conseguirá fazê-lo?". 

E finish! Matou a pau. Gostei demais desse final. Se a gente não suporta ficar sozinho, quem poderá suportar a nossa companhia? 

O outro é muito importante na vida da gente, como aprendemos com a convivência com as pessoas! O outro é nosso espelho, se soubermos olhar a fundo podemos enxergar o que precisamos melhorar, ficamos cara a cara com os nossos defeitos. O outro é um grande desafio, se bem aproveitada a convivência nos liberta de muitas mazelas interiores. Mas olhar pra dentro... ah gente! Dói mas é completamente necessário! Auto conhecimento é vida e só podemos alcançá-lo em solidão. As vezes a gente precisa da gente mesmo, em isolamento,  para no futuro ser melhor pro outro. 

Se pensar bem, no fim das contas, nascemos sozinhos nesse mundo e vamos embora dele também sozinhos. Então viver é uma experiência individual e o outro, amigos, amores, família, são alegorias que Deus presenteou para nos dar um pouco de alegria (ou de tristeza) enquanto passamos por aqui para aprender que tudo, absolutamente tudo, é de dentro pra fora e nunca o contrário.

Vish... esse assunto dá pano pra manga, ficaria devaneando aqui a noite inteira e ainda assim teria assunto para boas prosas. Para quem não entende e não encara bem o desafio de ser só, leia Leandro Karnal, algumas fichas cairão e vai ser para bem, viu? 

Pra encerrar e incentivá-lo a ler, encerro com o resumo que o próprio escritor fez da obra: "Conseguir o exercício da solidão-solitude como um prêmio, fruto do seu esforço, um privilégio de busca, uma maturidade de vida, foi isso que falei o tempo todo". 

 Pra mim valeu muito! 



quinta-feira, 27 de junho de 2019

A vida e o vento



Eu adoro sentir o vento.

Adoro olhar o vento brincando com meu filtro dos sonhos, com as roupas no varal, com o cabelo e com as folhas das árvores. Amo ver o vento levantar poeira, fazer redemoinho... e quando o vento mantém no ar algo leve por um tempo, como uma folha, uma pena? Ai! Entro em êxtase! Amo a dança do vento! É como se eu pudesse ver o invisível, o inatingível... e posso imaginá-lo com cara de sapeca e mãos sorrateiras, empurrando a pena para lá e para cá, como uma criança com uma bola de bexiga na mão.

Hoje estava observando o vento brincando, batendo de mansinho no meu rosto e senti uma coisa tão boa! Parecia alguém muito querido vindo me abraçar! Tinha gostinho de novidade, de surpresa boa da vida, que vem para alegrar a alma. Parecia um tempo novo soprando em minha direção. 

Eu tenho mania de poetizar essas coisas, sou assim sonhadora e "viajandona" desde pequena,  penso sempre que o vento vem para trazer coisas boas e levar as tristezas. Se pensar bem acho que é real! O vento às vezes traz chuva e chuva traz abundância! O vento às vezes traz frescor no calor (menos em Cuiabá, que o vento é tão quente que parece que estamos de cara com uma churrasqueira... rsrsrs...), tem coisa melhor que um ventinho geladinho quando estamos suando em dias quentes? O vento soprado pela mãe, quantas e quantas vezes aliviou o machucado da gente, né? Acho que tem sentido então achar que ele trás coisas boas! 

A gente não pode ver o vento, mas a gente sente. É como o amor, né? Não dá pra mensurar, para ver, para tocar... só para sentir. Mas o amor também sopra, cumpre sua missão e se vai, como o vento. Aí eu vou mais longe e penso que se a gente sente amor, sente o vento e tantas outras sensações invisíveis e impalpáveis, a vida e a morte também devem ser como o vento. Se tudo é criação de Deus, a vida da gente também deve sempre passar e seguir como o vento, mesmo depois da morte. Nascemos e viramos vento. Morremos e viramos vento. Muitos ventos pensantes! 

O pensamento venta.
A tristeza venta.
A dificuldade venta.
O dia venta.
A noite venta.
O frio venta frio.
O calor venta amor.

E eu continuo adorando toda ventania, real e irreal, que mora dentro de mim. 





Maledicências, falta de noção e afins...


Hoje o papo no almoço rolou em torno da falta de bom senso que algumas pessoas teimam em manter. Morremos de rir da Rafa contando que uma pessoa a advertiu ao vê-la fumando, porque ia matar o "bebêzinho" que ela carregava na barriga, barriga essa que não contém "bebêzinho" nenhum. Não contente com a negativa de que tinha um ser humano sufocado pela fumaça do cigarro dentro da barriga, a rainha da falta de bom senso ainda insistiu que ela estava grávida sim... hahaha... rimos muito, rimos porque parece piada, não dá pra acreditar que existe gente tão sem noção assim nessa vida!  Dá até pra pensar que a pessoa faz isso de maldade, não é mesmo? Gente, não existe uma mulher que goste de ser apontada como gordinha. Me fala se tem? Eu já passei "N" situações do tipo, ai que raiva que dá! Já até colocaram uma vez a mão na minha barriga e perguntaram: "É o que eu estou pensando???", eu respondi: "É! GORDURA!!!". Ah, pelo amor de Deus, né?

A tal da maledicência não é uma unanimidade de Pedralva, não seremos injustos, tem em todo lugar, mas pela nossa cidade ser tão pequena, esse tipo de coisa fica muito em evidência por aqui. Eu penso assim: se você não tem intimidade com a pessoa, sabe muito pouco ou nada sobre a vida dela, não pode opinar, julgar, e muito menos questionar qualquer coisa! Afe... é irritante! Tem gente que se acha no direito de comentar sobre a sua vida numa rodinha, como quem fala de uma novela, uma série, um filme, que julga sem saber sua realidade, que espalha coisas inverídicas para ver o circo pegar fogo. Que preguiça de gente assim! 

Algumas pessoas julgam os outros ou suas atitudes de acordo  com o seu modo de interpretar a vida, com sua educação, intelectualidade, vivências, etc... então se a pessoa é pequena, ela irá interpretar tudo de um jeito pequeno, mesquinho, intolerante. Ninguém pode saber e fazer comentários sobre a vida de alguém porque não está vivenciando o que a pessoa sente, vive e sofre. O universo íntimo de cada um é muito particular e é um terreno infiltrável. Não sabemos as batalhas internas que as pessoas estão enfrentando, tem gente que sofre tanto e não demonstra, tem gente que é tão feliz e que vive sério e preso em casa, aparências são aparências, não evidências. 

Falar do outro em Pedralva parece que é esporte, é diversão. As vezes a pessoa é tão infeliz que ela tem que apontar o defeito e acontecimento da vida de alguém para se sentir menos inferior. Gente! Vai rezar, vai estudar, vai fazer uma caminhada para melhorar a saúde, vejam quantas montanhas lindas nós temos em Pedralva! Olhar para elas é um jeito de limpar nossa alma! Olhe, aprecie! Nossa terra é riquíssima em belezas! Vai fazer qualquer coisa, mas deixem a vida dos outros em paz! Sejam mais compassivos, se coloquem no lugar dos outros, esse é um exercício e tanto de compaixão que vale a pena ser feito, te deixa mais humano, mais coerente e te faz ser uma pessoa melhor. 

Ainda assim, aqui é um encanto. Apesar da fofocagem que assola (será que vai ser sempre assim? Que preguiça!) tem aquelas pessoas boas, simples, que só com um olhar e um sorriso já te dizem em silêncio : "eu estou torcendo por você", "eu te admiro", "ai que feliz que estou por te encontrar", pessoas que tem elegância na forma de ser e agir. Quando encontro gente com esse perfil eu me reenergizo imediatamente, o coração da gente fica até quentinho, aí a pessoa é tão querida que vem e te dá um abraço apertado, ai que delícia que é! 

Do contrário, a gente sai é com muitos quilos a mais de tanta energia ruim... e às vezes sai até com um filho inexistente dentro da barriga... só por Deus!




segunda-feira, 24 de junho de 2019

Amizade / Juventude


Já escrevi muitos posts no blog devaneando sobre amizade. Esse assunto para mim é inesgotável, tamanha a relevância que ocupa na minha existência (e no meu coração!). A maior bênção que eu carrego é ter feito e deixado ótimos amigos por onde passei e sempre me encanta que tempo e distância nunca conseguiram acabar com o carinho e a sintonia que construí com algumas pessoas. Construção é a palavra exata para definir uma amizade que se torna eterna, quando eu precisei você estava lá, quando você precisou eu te abracei e falei com carinho: "Estou aqui e não sairei do seu lado!", nos divertimos juntos, fizemos coisas erradas, dançamos, bebemos e traçamos planos, ousamos sonhar e planejar um futuro maluco, nos apoiamos, puxamos a orelha um do outro e brigamos, inúmeras vezes... amizade é uma construção que sobrevive quando existe uma base forte. A gente nunca esquece quem um dia nos amparou, não é mesmo? 

Esse fim de semana tive a alegria imensa de reencontrar em Belo Horizonte uma amiga desse "naipe": a Daniela Brandão. As amizades bem construídas nos presenteiam com a deliciosa sensação de que nunca saímos do lado daquela pessoa e foi exatamente assim que me senti em cada minuto com a Dani. Falamos sem parar, demos risada, colocamos anos de vida em dia e curtimos muito estar juntas, porque a gente sabe e sente quando é recíproco, né? A amizade das antigas tem também um poder único de devolver pra gente um pouco da juventude perdida, o amigo é capaz de fazer a gente se lembrar de atitudes e histórias esquecidas pelo tempo, a gente se recorda quem foi e quem nunca deixou de ser. A Dani é aquela amiga que faz você acreditar que não importa o que esteja acontecendo, que tudo vai dar certo. É uma amiga que ouve, uma amiga que sente. 

Voltei pra casa pensando na amizade e na juventude, essas duas "coisas" tão preciosas que trazem VIDA pros dias da gente. Pensei no quanto é necessário e vital fazermos manutenção temporária nas duas. A gente PRECISA se reencontrar, a gente PRECISA se divertir, rir, falar, estar junto e continuar tendo a certeza que pode contar com aquela pessoa. A gente precisa SENTIR que a vida tem graça. A vida é uma coisa estranha, a rotina, o excesso de responsabilidades e os problemas inúmeros do dia-a-dia nos afastam de quem somos de verdade, dos amigos, de quem gostamos de ser. A "vida de gente grande" nos engole e nos massacra se a gente deixar. Será que eu estou viajando? É só eu que sinto isso ou você também sente? Talvez seja uma viagem, mas é o que eu sinto.

E pensar que a gente sempre deixa tudo pra depois... "Ah, eu falo com ela outro dia!", "Ah, não vou, estou cansada", "quero muito te ver mas estou sem dinheiro para viajar"... e seguimos cegos imersos na certeza da eternidade. A gente deixa para depois, mas depois pode acontecer tanta coisa, não é mesmo? Eu estou apontando dedo mas tem outros quatro aqui viradinhos para mim, sou a mais acomodada e que acredita que um contato, uma visita, um encontro pode esperar. Não pode esperar. Quem perde de ver e estar com uma pessoa querida e importante na nossa vida é a gente mesmo, porque esses encontros deliciosos, como o da Dani, nos renovam, nos energizam e nos fazem ser muito, muito, muito, muuuuuuuuito gratos por tudo que construímos juntos. 

Encontre, beije, abrace, fale mais do que a boca.
Seja o presente para alguém e viva o presente que Deus te deu. 
Não tem preço. 

Com amor para você Dani!
Com amor para todos os amigos preciosos (carapuças servirão), espalhados por esse Brasilzão e além,  que tenho a honra de ter aqui, bem coladinhos à minha alma!

Gratidão por todos.





sexta-feira, 21 de junho de 2019

Sair de cena



Um antigo namorado se irritava profundamente comigo quando, em alguma discussão acalorada, daquelas que a gente sabe que não vai chegar em lugar nenhum, eu virava as costas e saía de cena. A intenção não era ignorar, apenas deixar os ânimos se acalmarem e esperar pra resolver a pendenga quando fosse possível conversar coerentemente.

Sair de cena é terapêutico às vezes. Só a gente mesmo pra saber quando estamos ou não preparados pra enfrentar alguma situação. Eu sempre tive comigo como aliadas a quietude e a solidão, é só na oportunidade de introspecção que a gente se cura, se levanta, programa uma vida, uma saída, uma revolução. 

Sair de cena te dá amplitude para olhar de fora uma situação emperrada. Todos precisamos de tempo e espaço para assimilar coisas da vida da gente, principalmente aquelas que não temos o poder de resolver, então meu filho, o que não tem remédio remediado está, não é mesmo? E é só saindo de cena pra saber de verdade se o caso tem remédio ou não.

O tempo é uma belezinha pra ajudar a gente a pensar, a sentir melhor, a rever e ressignificar tudo o que passou. Eu amo o efeito do tempo na vida, sabe? Ele acalma o coração, silencia a mente e traz normalidade para os nossos dias.

O sentimento deu nó, o coração apertou, a discussão esquentou, o projeto não anda, a vida não acontece??? Sai de cena! Vai olhar pra outro lado, vai ver a natureza, o problema de outra pessoa que é maior que o seu, vai cuidar de alguém, vai reprogramar sua vida, mas não fica parado vendo o barco afundar.

O fundo do poço é opcional. Aguentar desamor é opcional. Engolir sapo, apesar de fazer a gente crescer e baixar a bola,  também é opcional. 

Vá e veja as infinitas possibilidades que uma saída de cena pode te proporcionar. O distanciamento pode fazer milagres. A cena é sua e o filme da sua vida só você, em quietude, pode criar, cortar, prolongar, encurtar, embelezar ou entristecer... a história ser bonita ou feia só depende de você e quando temos a exata noção de que somos nós os grandes criadores de tudo o que acontece de bom e ruim na nossa vida, quando deixamos de culpar os outros pelas nossas mazelas, quando assumimos completamente a responsabilidade pelas nossas escolhas e atos, aí sim... podemos voltar à cena e mostrar ao mundo o melhor que nós podemos ser e fazer. 



segunda-feira, 17 de junho de 2019

Aila - A menina luz!


A vida já me permitiu viver coisas muito bonitas. Ver a Aila nascer está em primeiríssimo lugar na minha lista de eventos lindos. Foi de longe a emoção mais diferente e mais cheia de significados que pude vivenciar. Ando nostálgica nos últimos tempos, tentando resgatar e ressignificar o passado para fazer parte de mim de uma forma mais agregadora.  Sabe aqueles tempos que você tenta descobrir quem é? Tempos em que coisas que você viveu parecem não ter sido vividas por você? Soando paranóico?  Rsrsrs... Xi! Tá! Hahahaha...

Lembro como se fosse hoje de pegar a Fernão Dias de noitão em busca da luz que a Aila ia trazer pra gente. O nascimento seria em Extrema, cidade que eu nunca tinha visitado antes, então o desafio já começou daí, encontrar de madrugada, com meu co-piloto super querido, onde estava a Ângela em trabalho de parto. Mas como as estrelas de David que guiaram os Reis Magos, nós fomos guiados por amor e encontramos facilmente, em um quarto de um hotelzinho, a Ângela, já com muita dor, se entregando inteira para aquele momento mágico. No quarto meia luz aconchegante, uma musiquinha deliciosa tocando e uma playlist de fazer chorar, preparada com todo cuidado pelo paizão dedicado. Ângela parecia dopada pelas contrações que a retorciam em êxtase e Edu, carinhosamente a massageava nas costas e na barriga, a abraçava e se fazia totalmente necessário na cena, junto às doulas.

Com a evolução do processo fomos todos para o hospital e ficamos num quarto preparado cuidadosamente para o parto humanizado. Meia luz, som ambiente de primeira qualidade, equipe humana e preparada, Edu ora dedicado, ora desengonçado, do jeitinho que ele é mesmo e eu, orgulhosamente, registrando todo o encantamento com meus click's irritantes (lembra Ângela? Rsrsrs...). O barulho do disparador da câmera era o único inconveniente do momento. Mas o registro era vital, num tinha jeito!  

Ora éramos platéia, ora fazíamos parte do pacote energético, fazendo força sem nem perceber, junto com a brava parturiente, que ora chorava, ora sorria, na dança insana das contrações cada vez mais numerosas e com intervalos curtinhos. Foi um lindo processo.

Ângela deu à luz à Aila de cócoras, quase pra nascer o dia, ela foi de uma bravura encantadora, e, no momento que o corpinho frágil da esperada menina terminou de chegar, todos choramos. Abraços, beijos, lágrimas, momentos únicos eternizados no nosso coração. Que experiência incrível! O parto humanizado é de um respeito tão grande com a mamãe e o bebê que eu só queria voltar no tempo e ter minhas filhas de novo, com toda aquela magia. Vamos deixar isso para uma próxima vida, ok? rsrs...

Tenho certeza que a forma como a Aila nasceu moldou parte da personalidade dela naquele momento. Aila hoje é uma criança que brilha, livre, leve, feliz! E a gente ama tanto! 

Essa semana ela está completando 4 anos, tem um olhar expressivo e uma alma de quem quer TUDO da vida! Serei grata eternamente pelo presente que foi participar desse nascimento. Com ela eu passei a ter um outro olhar sobre mim mesma, sobre a vida e o nascer e sobre  a riqueza que é ter a amizade da Ângela e do Edu.

Nunca nos esqueceremos.
E o nosso amor... ah! Esse é pra sempre e crescente, com toda a certeza!

domingo, 16 de junho de 2019

Perdas e papel toalha



Perder faz parte da vida. Perdemos o dia quando chega a noite, perdemos a hora e a oportunidade. Perdemos peso (ah! Isso é bom! Rsrs...) e perdemos tempo, quando desperdiçamos a vida. Perdemos o emprego, perdemos a fome. Perdemos pessoas, para a vida ou para a morte, isso sim, é muito triste. 

Eu moro numa cidade muito pequena e, por ser pequena, ficamos sabendo de todos os falecimentos, que são inclusive anunciados no auto-falante da igreja (bem coisa mineira!).  Como conhecemos quase toda a população, sofremos juntos com os familiares daqueles que se foram. Nos últimos tempos Pedralva está de amargar, muita gente querida e conhecida indo embora, na última semana então... meu Deus! Só deu velório na programação da cidade. E no ar, dessa cidadezinha tão pequena, amorosa e acolhedora, fica um vazio, um sopro de tristeza. Todos sentem, porque todos se gostam. 

Muitas vezes eu perco o pensamento analisando porque ainda estou morando aqui, principalmente naqueles dias em que dá vontade de mudar tudo na vida, sabe? Meu trabalho posso fazer remotamente, mas seria muito mais fácil e prático se fosse feito próximo dos meus clientes, ou seja, longe, muito longe! Mas eu não vou por isso, porque aqui as pessoas se gostam, sofrem e se alegram juntas, se importam umas com as outras, olham nos olhos, se abraçam! Fofocam também, são muitas vezes maledicentes, mas o amor em comum é tão mais forte e atraente que as picuinhas! Aqui é assim. 

Os últimos tempos estão difíceis, né? Pra gente, pro mundo. Muitas perdas! Muitas escolhas erradas com consequências desastrosas, em todos os âmbitos, política, economia, sociedade e vida pessoal. No que cabe a mim o último ano foi o que eu mais chorei na vida... acho! Muita lágrima mas também muito crescimento, e talvez seja esse mesmo o papel da perda, fazer a gente crescer, reconhecer os erros, valorizar as pessoas e quem sabe tentar fazer tudo diferente. 

Nesse tempo de lágrimas descobri a melhor função para o papel toalha, tenho que repartir isso, chega a ser até uma utilidade pública. Uma única folha de papel toalha aguenta firme um acesso de choro de pelo menos meia hora! É sério! Não desejo que você tenha motivos para chorar só para experimentar minha “descoberta”, mas se tiver, experimente! É tiro e queda. Hoje mesmo estou na base do papel toalha, foi triste voltar pra Pedralva depois de uma semana trabalhando fora, justo numa semana de perdas tão significativas, de várias famílias que eu tanto admiro. Estou triste e ainda sem forças de ir visitar os amigos, ainda tenho um rolo de papel toalha pra gastar, porque ninguém merece ir visitar os amigos que perderam seus entes queridos e ainda ter que ser consolada por eles. Então já já eu vou, viu pessoal? 

E é isso... papai do céu, dá um tempinho pro coração dos pedralvenses! Deixa a gente respirar um pouco! Está certo que todos nós vamos qualquer hora dessas, mas não precisa ser tantos de uma vez.

Um beijo no coração de quem perdeu uma pessoa da família, um amor, um emprego, a saúde... a perda faz parte da vida, infelizmente é assim, nós só não podemos nunca é perder a fé... porque a fé é o que faz a gente continuar, mesmo com tantas perdas.