quarta-feira, 31 de julho de 2019

O suicídio, a expressão e a cura


Quem acompanha o meu blog já deve saber o quanto eu gosto de "viajar" nas ideias que povoam a minha "caixola"... não sei se eu sou sempre compreendida, mas se eu ficar pensando muito nisso, nunca mais escrevo. Então se algo que eu escrever soar estranho pra você, pense que é um devaneio, uma doidice ou mesmo alguém que escreve porque ama poder se expressar.  Às vezes eu escrevo pra mim mesma e outras vezes não tem nada a ver comigo, é só mesmo uma forma de expressão, um alerta ou quem sabe uma missão de descortinar mentes presas em quartinhos escuros? Quem sabe, né? 

Escrever pra mim, na maioria das vezes, é uma libertação. Vivi presa dentro de mim por muito tempo. Vou contar uma historinha triste da vida real. Quando a minha mãe faleceu eu tinha 11 anos. Logo que voltamos do sepultamento, lembro da cena como se fosse hoje, eu sentei na cama da minha mãe, ainda com o cheirinho dela, já sentindo uma falta danada da pessoa mais importante da vida e disparei a chorar mais um bom tanto. Uma tia passou pela porta do quarto, me viu ali, se aproximou e disse: "Chega de chorar! E outra, não fique chorando na frente do seu pai daqui pra frente, ele já está sofrendo muito e é melhor que ele não veja o sofrimento de vocês", e trancou assim a porta da cela, aprisionando a livre expressão que habitava em mim. Eu sei que ela não fez por mal, coitada! Queria ajudar o irmão viúvo, com cinco filhos para criar sozinho. Mas vem cá, pedir para uma criança de 11 anos não mostrar os sentimentos de perda de uma mãe foi uma atitude, no mínimo, infeliz, não é não? Obediente que eu era, tentei seguir à risca a recomendação e a falta de expressão habitou meu coração por uma boa parte da vida, o que gerou muita rebeldia, muita baixa auto-estima e um irritante sentimento de inadequação que me limitava quando queria dizer algo importante a alguém ou simplesmente desabafar. Sou um pouco assim até hoje. Acho que vou incomodar o outro com a minha dor. Se eu te contar que comecei a me libertar, a falar o que "vem na telha", com o blog, você acredita? E até hoje eu sigo tentando essa expressão livre, não consegui ainda totalmente, mas sigo firme e forte nas tentativas! 

Hoje, adulta, se passasse pelo quarto e visse aquela cena triste,  eu diria para aquela menina: "Chore mesmo querida! Deixe o mundo saber da sua dor! Fale sobre essa dor, se exponha, chore na frente do seu pai, você não precisa sofrer sozinha, todos podem sofrer juntos! Chore para que você se cure, se liberte e possa ter apenas uma saudade sublime da sua mãe, sem precisar carregar essa dor dilacerante pela vida afora", a abraçaria, choraria com ela até que visse um sorrisinho de volta. Hoje eu te acolho, querida menina, te acolho escrevendo esse texto para dizer aos outros o quanto a expressão da dor pode nos curar, nos amadurecer e nos libertar de sermos prisioneiros dentro da gente mesmo. 

A comunidade pedralvense está se mobilizando para combater o suicídio, que por aqui tem índices alarmantes. Acho bacana a iniciativa, não pude ir na reunião na semana passada que reuniu as lideranças religiosas para discutirem o tema, mas quero me juntar às pessoas que estão abraçando a causa. Só penso que não é passeata, palestra, cartaz, etc... que vai resolver a dor do outro. Pode até amenizar, mas o outro pode achar uma "balela" isso tudo, por melhores que sejam as intenções da comunidade. O outro está doente. O outro está sozinho. Pouca gente acredita nele. Pouca gente acha que ele será capaz de se matar. Dói muito dentro do outro, a dor é tão grande que o suicídio é a única saída que ele consegue ver. 

Eu pensei em me matar algum tempo depois que minha mãe se foi. E outras vezes também. Quem nunca pensou em tirar a própria vida que atire a primeira pedra, né? A minha sorte é que a coragem sempre ficou bem distante do desejo, mas infelizmente tem pessoas por aí com a coragem colada ao desejo, é quando uma vida se perde em milésimos de segundos, tristemente. Vida que poderia talvez ter sido salva por outra pessoa, com uma atenção, um carinho, uma conversa, um colo, um ouvido. Penso o quanto somos negligentes com a dor dos outros, às vezes a única coisa que a pessoa precisa é ser ouvida, é ter sua dor levada a sério.

Eu tive a sorte também de pertencer à uma religião que acredita que a vida não acaba: o espiritismo. Sem desmerecer as outras, que são todas nobres e com propósitos belíssimos, o espiritismo salvou a minha vida, inúmeras vezes, e continua me salvando todos os dias, de todas as mazelas. Eu tenho esperança na minha religião, eu sei que Deus me dará sempre chance de corrigir meus erros e de recomeçar. A pessoa que está à beira de cometer o suicídio talvez não conheça Deus direito, pode até ter uma religião, mas quem conhece aquele Deus amigo, confidente, companheirão para todas as horas, se sente acolhido de alguma forma e sabe que tudo vai passar, mesmo que demore. 

Pra você, que passa por alguma dor absurda e que pensa em tirar a sua vida, eu só posso te dizer: FALE!!! CHORE!!! PERMITA QUE A DOR SEJA DILUÍDA! Não se cale, expresse o que sente! Se não tiver ninguém, venha falar comigo! Vá falar com o padre, com o pastor, com um dirigente de uma casa espírita, sua mãe, seu amigo. Falar alivia, falar cura! Encontre Deus, dentro ou fora de alguma religião, encontre você mesmo aí no meio de toda dor. No meio de tanta dor! 

E olha... a dor vai passar. Acredite em mim! 


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