segunda-feira, 23 de março de 2020

Luta individual


Hoje estava refletindo aqui na minha quarentena sobre essa "doideira" que estamos passando com a pandemia do Novo Corona Vírus. Quem imaginou viver um "trem" desse, né? Eu NUNCA... e olha que eu tenho a imaginação beeem fértil, viu? rsrs... Como eu sempre acho que tudo tem um propósito nessa vida, minha nova "diversão" é refletir sobre o que esse vírus está querendo mostrar pra gente. É tanta coisa, tanta reflexão, que preciso ir por partes nesse meu devaneio para não me perder e talvez só um post não seja o suficiente, talvez muitas reflexões exijam amadurecimento, que só virão com o desdobramento dessa pandemia nos próximos meses.

Pensei hoje que cada pessoa está justamente onde precisa estar e com quem precisa estar nesse momento. Eu estou sozinha. Ops, sozinha não, eu e os meus gatinhos, que são excelentes companheirinhos! Muitos estão com a família ou com parte dela, outros com amigos, com namorados, viajando, mas todos isoladinhos em algum ponto desse planeta. Minhas meninas estão cada uma num canto, nos primeiros dias de quarentena lamentei muito por não estarmos as três juntas enfrentando mais uma barra na vida, já enfrentamos tantas, né? E foi tão bom ter elas por perto nos perrengues, mesmo que elas fossem crianças. Hoje tudo mudou, elas são adultas, cada uma cuidando de si e de correr atrás da vida que escolheram e sabe a real? Hoje eu não controlo mais nada na vida delas, nem posso, nem devo, mas que dá saudade do tempo em que eu decidia tudo, isso dá!  

Quando tem que ser a vida junta ou separa, isso é fato. E quando tem que ser  a "coisa" tem força. Se não estão aqui é porque elas também precisam estar onde estão, para o próprio crescimento de cada uma. Eu estou aqui porque eu preciso olhar pra mim, cuidar de quem só cuidou até hoje. Reconhecer isso não é fácil, reconhecer isso é assumir o meu lado controlador, mandão, que quer ter sempre as situações da vida e as pessoas sob total controle. Muito auto-crítica, muito rígida, que se cobra por tudo, até pela escolha e dor do outro, que nem é de minha responsabilidade e competência. Reconhecer isso é olhar pra trás e ver o quanto já passei por cima de mim mesma para atender, acolher, cuidar, ajudar e fazer tudo pelo outro, mesmo que na maioria das vezes eu tenha recebido muito pouco ou nada de volta. Nessa quarentena eu estou em primeiro lugar, estou frente a frente comigo, para reconhecer minhas delícias e amarguras, meus defeitos e qualidades, meus desejos e necessidades. A quarentena quer de mim autoamor, autoacolhimento, autocompreensão. 

É claro que não vai ser um mar de rosas, eu sei. Nem para mim que estou sozinha e nem para quem está perto da família, ou de seja lá com quem for. Assisti um vídeo ontem de uma brasileira que mora na Itália dividindo com os brasileiros o que ela chama de "fases da quarentena", que muda a cada semana. Ela diz que na primeira semana, enquanto é novidade, até que a gente leva numa boa, mas quando vier o tédio, a impaciência, a tristeza pelas mortes aumentando, a irritabilidade com quem está com você... não vai ser fácil pra ninguém. Depoimento de quem está ha dois meses em isolamento.  Estamos há uma semana, nem isso! O que vem pela frente? Intolerância, impaciência, descrença ou fé, confiança, entrega, entendimento? Ou tudo junto, misturado? Talvez hajam brigas, desentendimentos, dentro de casa. Talvez a sua irritação com quem você divide o teto nesse momento fale mais sobre você do que sobre ele ou eles. Talvez fale do que você precisa mudar, fale da sua sombra, fale da escolha que você faz todos os dias ao se relacionar com o mundo. Você está escolhendo corretamente?

São muitos questionamentos, mas certamente os dias que virão serão dias de praticar a tolerância, de acertar relacionamentos doentes, de falar a verdade, de assumir erros, de perdoar... então eu só posso pensar que esse vírus traz a doença, a dor e o medo mas traz também a cura para os nossos sentimentos. 

E sabe? Mesmo que você esteja acompanhado nesse momento pelas pessoas que você mais ama, a luta é individual, em todos os sentidos! Na prevenção do virus, na tolerância e na calma necessárias para passar por esses dias sem enlouquecer. Cada ser está num nível diferente de evolução, de compreensão da vida, de autoconhecimento, por isso a tolerância é importantíssima nessa hora. Talvez os "insights" que você tenha nesses dias não sejam os mesmos "insights" que seu marido e seu filho terão. Talvez você fale e todos vão achar que você está viajando, como podem achar que eu estou viajando com essa postagem, certo? hahaha... 

Mas se a viagem for pro bem, que mal tem?
Desejo a todos dias de aprendizado e muito amor. 
É o amor que vai nos salvar, é o amor que sempre salva. 

5 comentários:

  1. Eita Ana querida, foi fundo hein??? Parabéns, como sempre eu amei

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  2. Que linda sua viagem mãe. Estamos longe mas conectadas!

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  3. Falou bem e bonito Ana! Acredito que ninguém pensou que um dia fosse passar por isso,mas também acredito que todos nós poderemos sair dessa mudados e pra melhor. Beijo grande, muito amor pra você também!

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  4. Mais um belíssimo texto!
    Amei, Ana!!
    Bjs

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  5. Como sempre, minha amiga escritora compartilhando meus sentimentos em suas palavras! Você tem a habilidade de falar por muitos e de fazer com que as pessoas se identifiquem... Super beijo, mas super mesmo!

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