quinta-feira, 19 de abril de 2012

Das coisas que vem e vão...



Ontem eu fui convidada pra fazer uma palestra pra moçadinha do segundo colegial, na escola da Cibele, minha filha, sobre o meu trabalho como escritora. Na aula de Literatura eles estão estudando os tipos de biografias e lá fui, contar um pouquinho sobre a experiência que tenho adquirido neste sentido. Foi uma delícia, os alunos foram super atenciosos e participativos e eu fiquei realmente muito feliz em ter aceito o convite, e em perceber o quanto esta galerinha está antenada em querer aprender.

Mas o que eu queria dizer disso é que um dos alunos me perguntou se tinha algum escritor que me inspirava. De cara lembrei do Rubem Alves, embora meu estilo seja bem diferente do dele. Afinal de contas eu não posso viajar tanto quanto ele! rsrsr... Lembrei do Rubem Alves porque acho que foi ele quem despertou minha alma para as metáforas bonitas da vida. O descobri na época da faculdade e a empatia foi tão grande que eu, naquele tempo, comprei praticamente todos os livros que ele já tinha publicado e os devorava, deliciosamente.

Depois de um tempo me formei, fui viver no Mato Grosso, virei gente grande com uma família pra criar e acabei abandonando o Rubem... rsrsrs... ficou engraçado isso! Quero dizer, sem muito tempo pra mim, deixei de comprar seus livros e assim a vida seguiu. Só que as metáforas lindas ficaram pra sempre em mim e, vira e mexe, estão presentes de alguma forma, acho que pra mostrar a sabedoria do movimento na vida da gente.

No livro "Tempus Fugit" (Olha que coisa linda: "quem sabe que o tempo está fugindo descobre, subitamente, a beleza única do momento que nunca mais será", tá escrito na contra capa do livro), ele compara as coisas que vem e vão na vida da gente com os efêmeros Ipês, que nos trazem por poucos dias extrema beleza e, no restante do ano, são árvores comuns, apenas deixando saudade dos dias coloridos. Mas na florada do Ipê a gente pensa: "pôxa, valeu à pena o universo ter sido criado, só por causa disso!!!", não é mesmo? E só de lembrar a gente já fica feliz, porque sabe que as flores vão sempre voltar.

E por coincidência essa semana todas as minhas violetas voltaram a florir, imagina se eu não lembrei do Rubem Alves, né? Me deu uma alegria! ... (só um parênteses, que TUDO, que MARAVILHOSO, que DIVINO, poder ter um tempinho pra cuidar de plantas! Tô no céu!!! :) ).

Mas é isso! O amor, o encantamento, a alegria, por mais que fiquem tempos afastados de nós, sempre dão um jeitinho de voltar. A gente sente falta dos dias de florada, fica até um pouco tristinho, porque os danados destes sentimentos fazem uma falta danada, né? Mas o jeito é ficar feliz, porque um dia, de alguma maneira, eles irão voltar.

Deixo aqui então de presente pra vocês o finalzinho de uma das crônicas mais lindas dele que já li. Ela se chama: Onde mora o amor.

"Mas aí, sem que se saiba por que, a gota de chuva cai, o vento se vai, e ficamos de mãos vazias. E só nos resta esperar. Como esperamos que o ipê floresça de novo. As flores desapareceram, mas voltarão. Amor é isto: a dialética entre a alegria do encontro e a dor da separação. E neste espaço o amor só sobrevive graças a algo que se chama fidelidade: a espera do regresso. De alguma forma a gota de chuva aparecerá de novo, o vento permitirá que velejemos de novo, mar afora. Morte e ressurreição. Na dialética do amor, a própria dialética do divino. Quem não pode suportar a dor da separação não está preparado para o amor. Porque amor é algo que não se tem nunca. É evento de graça. Aparece quando quer, e só nos resta ficar à espera. E quando ele volta, a alegria volta com ele. E sentimos então que valeu a pena suportar a dor da ausência, pela alegria do reencontro." (Tempus Fugit - Rubem Alves)






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